MASP

Farnese de Andrade Neto

Terceira visão, Década de 1970

  • Autor:
    Farnese de Andrade Neto
  • Dados biográficos:
    Araguari, Minas Gerais, Brasil, 1926-Rio de Janeiro, Brasil, 1996
  • Título:
    Terceira visão
  • Data da obra:
    Década de 1970
  • Técnica:
    Madeira policromada e vidro
  • Dimensões:
    69 x 26 x 26 cm
  • Aquisição:
    Comodato MASP B3 – BRASIL, BOLSA, BALCÃO, em homenagem aos ex-conselheiros da BM&F e BOVESPA
  • Designação:
    Escultura
  • Número de inventário:
    C.01251
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Artista autodidata, Farnese de Andrade mudou-se em 1942 para Belo Horizonte, onde estudou desenho com Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). A partir do início da década de 1960, quando já vivia no Rio de Janeiro, começou a criar obras a partir de materiais descartados, coletados em praias e aterros, como pedaços de madeira. Posteriormente utilizou, entre outros objetos, armários, oratórios e cabeças de bonecos adquiridos em antiquários e depósitos de peças usadas e de demolição. Farnese recorreu a objetos marcados pelo uso e pelo tempo, associando-os fortemente, de forma explícita. Apontou para a ação do tempo sobre eles, percebida nas arestas arredondadas da madeira em suas esculturas. Nessas colagens de objetos tridimensionais (ou assemblages) veem-se, em vários trabalhos, alusões à figura humana — em seus aspectos tementes, tensos, tenebrosos —, como em Terceira visão (1985). Nessa obra, Farnese constrói uma conexão vertebral unindo verticalmente uma cabeça, um objeto ovalar, uma base bem trabalhada e uma haste pintada de dourado bem ao centro, em madeira. O corpo da escultura é desproporcionalmente maior do que o rosto entalhado, em que três olhos miram o espectador. Essa escultura pode fazer referência a um fantasma, ex-voto, fetiche ou outro objeto ritual. Sabe-se que os trabalhos de Farnese estão associados às memórias pessoais do artista. Carregados de erotismo, sensualidade e religiosidade, estão muitas vezes impregnados de uma carga opressiva e violenta. Em diálogo com temas e materialidades do barroco, o artista produz metáforas de castrações, traumas e desejos. As memórias e o inconsciente do artista materializam-se solidificados e enclausurados nestes objetos articulados. O peso e a configuração dessas partes de objetos em madeira arranjados por Farnese parecem falar de um passado pesado, inerte, sólido e difícil de desmembrar.

— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018

Fonte: Adriano Pedrosa, Guilherme Giufrida, Olivia Ardui (orgs.), Da Bolsa ao Museu – comodato MASP B3: arte no Brasil, séculos 19 e 20, São Paulo: MASP, 2018.



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