A programação Histórias afro-atlânticas: filmes e vídeos se encerra com a exibição de Frantz Fanon: Black Skin, White Mask (1995), dirigido pelo artista Isaac Julien e roteirizado em colaboração com o curador Mark Nash.
Recentemente restaurado pelo Instituto Britânico de Cinema, o filme exibe um retrato biográfico do influente intelectual e revolucionário Frantz Fanon, refletindo as teorias críticas e as experiências pessoais que fundamentaram seus escritos. Baseado no livro Pele Negra, Máscaras Brancas (1952), a película aborda os efeitos psicológicos do colonialismo sobre a subjetividade da pessoa negra. Fato e ficção são entrelaçados em uma teia complexa de recursos estilísticos e narrativos, com encenações históricas interpretadas pelo ator Colin Salmon. A apresentação de imagens de arquivo e entrevistas com teóricos como Homi K. Bhabha e Stuart Hall dão corpo ao conjunto de princípios desenvolvidos por Fanon, atualizando sua relevância para as teorias pós-coloniais.
Frantz Fanon: Black Skin, White Mask
Isaac Julien (dir.), 1995
70', cor, 35mm
O programa Histórias da afro-atlânticas: filmes e vídeos tem início com a exibição de quatro curtas-metragens brasileiros. No sábado, a sessão será seguida de um bate-papo com o diretor Jeferson De que, além de comentar sua própria produção, também compartilhará suas perspectivas em relação ao atual contexto do audiovisual no Brasil.
Desde o final da década de 1990, uma geração de diretores e profissionais vem fortalecendo o debate sobre a construção da imagem do negro no cinema brasileiro e sobre diversidade étnico-racial no setor audiovisual. Jeferson De é autor do manifesto Gênese do cinema negro brasileiro, cujas diretrizes refutam qualquer forma de representação estereotipada e priorizam o protagonismo negro, tanto no elenco como na direção.
A sessão exibirá também os curtas-metragens Gênesis 22 (1999), e Carolina (2003), este sobre a história da escritora Carolina Maria de Jesus, importante porta-voz da condição da mulher negra no Brasil. O programa conta também com duas produções de jovens realizadores que foram destaque em mostras nacionais e internacionais, DEUS (2016), de Vinicius Silva, e Lúcida (2015), de Fábio Rodrigo e Caroline Neves.
PROGRAMA
Gênesis 22
Jeferson De, 1999
3’, cor, 16mm
Carolina
Jeferson De, 2003
14’, cor, 35mm
Lúcida
Fábio Rodrigo e Caroline Neves, 2015
16’, cor, digital
DEUS
Vinicius Silva, 2016
25’, cor, digital
Baseado em pesquisas e memórias pessoais, A negação do Brasil analisa a influência das telenovelas no estabelecimento de narrativas sobre a composição racial brasileira e nos processos de construção das identidades das populações afrodescendentes. O documentário inclui depoimentos de Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta e Maria Ceiça relatando a luta de atores e atrizes negrxs pelo reconhecimento de suas contribuições na história da teledramaturgia brasileira. O filme ganhou o prêmio de melhor documentário brasileiro na edição de 2001 do festival É tudo verdade e, assim como o livro A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira (2000), resulta da tese de doutorado que o diretor realizou no Núcleo de Pesquisa de Telenovela da Escola de Comunicação e Artes da USP.
As próximas sessões do ciclo afro-atlântico do MASP filmes e vídeos irão apresentar três curtas-metragens que levantam o debate sobre a presença da mulher negra na atual produção audiovisual brasileira. Nesses filmes, a questão da representatividade se reflete tanto no que é apresentado em tela – personagens principais e personalidades retratadas – como nos bastidores, com a presença de diretoras negras em produções individuais, ou em parcerias.
A sessão de sábado (15.9) contará com um bate-papo com a diretora Day Rodrigues e o diretor Lucas Ogasawara comentando o filme Mulheres Negras: Projetos de Mundo. Entre os temas abordados, os diretorxs compartilharão algumas reflexões sobre representatividade no meio audiovisual brasileiro.
Rainha
Sabrina Fidalgo (dir.), 2016
30’, p&b, digital
Dia de Jerusa
Viviane Ferreira (dir.), 2014
20’, cor, digital(?)
Mulheres Negras: Projetos de Mundo
Day Rodrigues (dir.) e Lucas Ogasawara (dir.), 2016
25’, cor, digital
SERVIÇO
15.9: exibição e bate-papo com Day Rodrigues)
18.9: exibição
Sábado e terça, às 16h
Pequeno auditório do MASP (capacidade para 80 lugares)
Retirada de ingressos a partir das 14h, diretamente na bilheteria
Sessões gratuitas
Todos os filmes serão exibidos em projeção digital
Classificação indicativa: livre
Organização: Leonardo Matsuhei - Mediação e programas públicos MASP
Histórias afro-atlânticas: filmes e vídeos exibe o documentário Balé de pé no chão: a dança afro de Mercedes Baptista, dirigido por Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro. O filme acompanha a trajetória de Mercedes Baptista, a primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Considerada a principal precursora da dança moderna afro-brasileira, a bailarina – de formação erudita – sistematizou um repertório de movimentos baseados nos gestos sagrados dos terreiros de candomblé.
Na década de 1950, a artista fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, dedicado à formação de bailarinos negros e à incorporação da cultura afro-brasileira nas pesquisas em dança inspirada em suas experiências com o Teatro Experimental do Negro, fundado e dirigido por Abdias Nascimento – que participa do documentário com depoimentos históricos.
PROGRAMA
Balé de pé no chão: A dança afro de Mercedes Baptista
Lilian Solá Santiago (dir.) e Marianna Monteiro (dir.), 2005
51’, cor, digital
A próxima sessão de Histórias afro-atlânticas: filmes e vídeos exibirá o documentário Abolição (1988), seguido de uma conversa com o professor, crítico e curador Heitor Augusto, abordando a importância da obra do diretor Zózimo Bulbul para a história do cinema brasileiro.
Em 1988, ano do centenário da Lei Áurea, o diretor Zózimo Bulbul dedica-se a analisar os mecanismos institucionais de exclusão e marginalização das populações negras ao longo dos anos, levando o espectador a questionar se, de fato, a abolição da escravatura se concretizou no Brasil.
Embasado por depoimentos de pensadores e artistas como Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Beatriz do Nascimento e Grande Otello, o filme mostra como o advento da abolição foi usado de forma a manter a ordem social e pacificar questões sobre o racismo no Brasil.
PROGRAMAÇÃO
Abolição
Zózimo Bulbul (dir.), 1988
150’, cor e p&b, 35mm
29.9 | exibição e debate com o professor, crítico e curador Heitor Augusto
Heitor Augusto irá localizar o filme dentro da trajetória de Bulbul, acentuando características marcantes da linguagem do diretor, como a experimentação formal de montagem – também presente em Alma no Olho (1974) – e o desejo de retomar narrativas negras no Rio de Janeiro, tal como no filme Pequena África (2002). As ideias apresentadas pelo documentário serão analisadas por Augusto a partir de questões que respondem ao momento de produção do filme – realizado no centenário da abolição da escravatura no Brasil – e suas reverberações sociais atuais.
02.10 | somente exibição
Alma no Olho
Zózimo Bulbul (dir.), 1974
12’, p&b, 35mm
O catedrático do samba
Noel dos Santos Carvalho e Alessandro Gamo, 1999,
24’, cor, 16mm
Abá
Raquel Gerber e Cristina Amaral, 1992
16’, cor, 16mm
O Rito de Ismael Ivo
Ari Candido Fernandes , 2003
12’, cor, 35mm
A próxima sessão de Histórias afro-atlânticas: filmes & vídeos apresentará duas obras que levantam o debate sobre a importância da linguagem cinematográfica nos processos de independência política de territórios africanos, seja na criação de um imaginário decolonial, ou na preservação da memória de luta e resistência.
O vídeo CONAKRY (2016), dirigido por Filipa César, com texto e performance de Grada Kilomba e Diana McCarty, é um ensaio poético feito a partir de registros documentais de importantes episódios da luta de libertação de Guiné-Bissau e Cabo Verde lideradas pelo intelectual Amílcar Cabral. As imagens apresentadas foram produzidas por cineastas como Sana Na N'Hada, Josefina Crato, José Columba Bolama e pelo autor do segundo filme a ser exibido na sessão, Flora Gomes.
Em Mortu Nega (1988), Gomes também retrata episódios das Guerras de Independência da Guiné-Bissau, porém, utilizando-se de recursos ficcionais e evocando heranças mitológicas de sua cultura. O filme narra a história da guerrilheira Diminga e de seu marido Saco durante os conflitos contra as forças coloniais e nos primeiros momentos seguidos à independência do domínio português.
Esta sessão apresentará dois filmes de realizadores senegaleses pioneiros na história do cinema africano. As obras abordam as consequências do colonialismo e do racismo contra populações africanas que, em razão de processos de diáspora, viviam na Europa nas décadas de 1950 e 1960.
Em Afrique-sur-Seine (1955), de Jacques Mélo Kane, Paulin Soumanou Vieyra e Mamadou Sarr, a cidade de Paris é descrita a partir do ponto de vista de imigrantes senegaleses, levando o espectador a refletir sobre quais grupos étnico-raciais historicamente ocuparam os lugares de observadores e observados na narrativa da linguagem cinematográfica mundial.
La noire de… (1965), de Ousmane Sembène, narra a história de Diouana, uma jovem senegalesa contratada para trabalhar na casa de uma família na Riviera Francesa. Sua visão idealizada de vida na Europa é frustrada quando a personagem se percebe submetida a condições abusivas de trabalho.
Por ocasião da exposição Melvin Edwards: Fragmentos linchados, em cartaz no MASP até 11 de novembro, a programação Histórias afro-atlânticas: filmes & vídeos exibe o documentário Some Bright Morning: The Art of Melvin Edwards (2016), dirigido pela curadora e crítica de arte Lydie Diakhaté.
O filme apresenta a trajetória do escultor estadunidense Melvin Edwards desde sua infância e juventude, durante o período de segregação racial, até a aproximação com a ideologia pan-africanista, a partir dos anos 1970, passando pela sua atuação no movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Composto por uma grande variedade de material de arquivo, o documentário acompanha o artista em sua galeria em Nova Iorque e também em seu ateliê no Senegal. Por meio de entrevistas, o artista expõe valores culturais e políticos que lhe permitiram estabelecer uma linguagem artística particular.
Some Bright Morning: The Art of Melvin Edwards
Lydie Diakhaté, 2016
51’, cor, digital
A programação Histórias afro-atlânticas: filmes e vídeos se encerra com a exibição de Frantz Fanon: Black Skin, White Mask (1995), dirigido pelo artista Isaac Julien e roteirizado em colaboração com o curador Mark Nash.
Recentemente restaurado pelo Instituto Britânico de Cinema, o filme exibe um retrato biográfico do influente intelectual e revolucionário Frantz Fanon, refletindo as teorias críticas e as experiências pessoais que fundamentaram seus escritos. Baseado no livro Pele Negra, Máscaras Brancas (1952), a película aborda os efeitos psicológicos do colonialismo sobre a subjetividade da pessoa negra. Fato e ficção são entrelaçados em uma teia complexa de recursos estilísticos e narrativos, com encenações históricas interpretadas pelo ator Colin Salmon. A apresentação de imagens de arquivo e entrevistas com teóricos como Homi K. Bhabha e Stuart Hall dão corpo ao conjunto de princípios desenvolvidos por Fanon, atualizando sua relevância para as teorias pós-coloniais.
Frantz Fanon: Black Skin, White Mask
Isaac Julien (dir.), 1995
70', cor, 35mm