O atual cenário global para pessoas queer* e trans é desigual: a aceitação, a solidariedade e a visibilidade existem lado a lado com o ódio, a censura e a total proibição legal em diferentes partes do mundo. Assim, por um lado, uma atenção maior voltada a questões Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo, Assexuais e de outras minorias (LGBTQIA+) vem criando mais oportunidades para artistas e pensadores queer e trans. Por outro lado, pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo – impactadas diferentemente por sua raça, classe, gênero, idade, nacionalidade – continuam enfrentando repressão. Nesse contexto, Histórias LGBTQIA+ reúne trabalhos que tematizam tópicos queer ou que sejam feitos por artistas, ativistas e pesquisadores LGBTQIA+. A mostra celebra a riqueza e a multiplicidade da criatividade queer nas artes visuais, alinhada com a missão do MASP, que define o museu como “diverso, inclusivo e plural”.
A exposição é organizada em oito núcleos. Na galeria do primeiro andar estão “Biblioteca Cuir”, “Ícones e musas”, “Espaços e territórios” e “Amor e desejo”. Na galeria do segundo subsolo, “Sagrado e profano”, “Abstrações” e “Ecossexualidades e fantasias transcendentais”. No mezanino se encontram os “Arquivos”. A maioria dos artistas de Histórias LGBTQIA+ trabalha no rastro da pandemia de HIV-aids, que teve início em 1980 e segue vigente, uma crise que redefiniu de maneira potente o que está em jogo no fazer artístico nas perspectivas queer e trans. Nem todos artistas na exposição se identificam como LGBTQIA+, e a mostra trata o queer de maneira ampla, como uma lente que nos deixa enxergar o mundo de um jeito diferente. Embora alguns artistas da exposição tenham morrido de complicações ligadas à aids (incluindo David Wojnarowicz, Felix Gonzalez-Torres, Leonilson, Martin Wong, Nicolas Moufarrege, Peter Hujar, Rotimi Fani-Kayode e Tseng Kwong Chi), há também outros artistas contemporâneos que seguem vivendo com HIV e florescendo (como D’Angelo Lovell Williams, Kia LaBeija e Sunil Gupta).
A exposição tem um especial interesse em tornar a história de algum modo queer – seja valendo-se da ficção e da narração para inventar histórias que foram apagadas, seja voltando-se ao passado para vislumbrar novos futuros. Dessa forma, são apresentadas obras que se engajam de maneira especulativa com arquivos (como no trabalho de Mayara Ferrão, que utiliza inteligência artificial para inventar histórias lésbicas negras) e atualizam obras de arte canônicas para invocar uma presença queer ou trans (como no extravagante Abaporu de Tarsila do Amaral vestido de couro na releitura de Rodolpho Parigi, no autorretrato de Yasumasa Morimura em uma versão drag de Frida Kahlo, e na subversão que Lyz Parayzo faz da icônica escultura Bicho de Lygia Clark). A justaposição de materiais de um passado e do momento contemporâneo realçam como as histórias – inclusive a história da arte – operam como recursos críticos para vidas LGBTQIA+.
*Queer na língua inglesa originalmente significa estranho, mas também em algum momento “sexualmente desviante”, porém desde o final do século 20 tem sido reivindicado por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros como um termo amplo para identificá-los.
Histórias LGBTQIA+ é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Julia-Bryan Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, com colaboração de André Mesquita, curador, e assistência de Leandro Muniz, curador assistente, e Teo Teotonio, assistente curatorial, todos da equipe do MASP.
A exposição faz parte do programa anual do MASP dedicado às Histórias LGBTQIA+ em 2024, que incluiu mostras dedicadas a Francis Bacon (1909-1992), Mário de Andrade (1893-1945), Catherine Opie, Lia D Castro, Leonilson (1957-1993), aos coletivos Gran Fury e Serigrafistas Queer, à Coleção MASP Renner, além de projetos na Sala de Vídeo por Masi Mamani/Bartolina Xixa, Tourmaline, Ventura Profana, Kang Seung Lee e Manauara Clandestina.
Um número importante de empréstimos de obras para Histórias LGBTQIA+ é oriundo de uma parceria especial com o Leslie Lohman Museum na cidade de Nova York, uma das poucas instituições dedicadas à arte LGBTQIA+ no mundo.
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ARTISTAS
A TRANSÄLIEN
Abdias Nascimento
Ad Minoliti
Adir Sodré
Adler Murada
Adriel Visoto
Alma Lopez
Amos Badertscher
Ana Raylander Mártis dos Anjos
Andrea Geyer
Andy Warhol
Angela Jimenez
Archivos Desviados
Arquivo Lésbico Brasileiro
assume vivid astro focus (avaf)
Ayrson Heráclito
Beverly Buchanan
Biblioteca Cuir
Candice Lin
Carlos Herrera
Carlos Motta
Catherine Opie
CCIHP - Center for Creative Initiatives in Health and Population
Cinthia Marcelle e Digg Franco
Claude Cahun
Coletivo Xica Manicongo
Cumaea Halim
D‘Angelo Lovell Williams
Daniel Correa Mejía
David Wojnarowicz
Dean Sameshima
Diambe
Edgard de Souza
Efrain Almeida
El Archivo Honduras Cuir
Ellen Bedoz
Engel Leonardo
Ernesto De Fiori
Etel Adnan
Evelyn Taocheng Wang
Fefa Lins
Felix Gonzalez-Torres
Ferrerin
fierce pussy
Gabriel Pessoto
GALA Queer Archive
Glenn Ligon
Gran Fury
Heitor dos Prazeres
Hélio Oiticica
Henrik Olesen
Hilma’s Ghost (Dannielle Tegeder And Sharmistha Ray)
Historia Transkuir In Colombia
iah’ra
IBRAT - Instituto Brasileiro de Transmasculinidades
Ismael Nery
Jonathas de Andrade
Kang Seung Lee
Kia LaBeija
Kōhei Yoshiyuki
La Chola Poblete
Leilah Babirye
Leonilson
Leslie Martinez
Lia D Castro
Liz Collins
Lyz Parayzo
Manauara Clandestina
Marcel Pardo Ariza
Marcela Cantuária
Marcos Chaves
Marie Laurencin
Martin Wong
Martine Gutierrez
Maryam Hoseini
Mayara Ferrão
Miguel Ángel Rojas
MUTHA - Museu Transgênero de História e Arte
Nancy Grossman
Nasim Hantehzadeh
Nicholas Hlobo
Nicki Green
Nicolas Moufarrege
Peter Hujar
Pietro Perugino
Puppies Puppies (Jade Guanaro Kuriki-Olivo)
Archivo Q’iwa - Comunidad Diversidad, Bolivia
QAMRA - Queer Archive For Memory, Reflection And Activism
Queer Indonesia Archive
Rafa Bqueer
Rafael Matheus Moreira
Randolpho Lamonier
Rebeca Carapiá
Ria Brodell
Rink Foto
Robert Giard
Roberto Burle Marx
Roberto Gil de Montes
Rodolpho Parigi
Rotimi Fani-Kayode
Sabelo Mlangeni
Salman Toor
Samantha Nye
Seba Calfuqueo
Shalom Kufakwatenzi
Sharon Hayes
Simone Fattal
Sunil Gupta
Tadáskía
Takweer
Tammy Rae Carland
Tee A. Corrinne
Teresa Margolles
Thai Rainbow Archives Collection
Tseng Kwong Chi
Tuesday Smillie
UÝRA
Ventura Profana
Victor Fidelis
Violeta Quispe
Willys De Castro
Xiyadie
Yacunã Tuxá
Yasumasa Morimura
Yuki Kihara
Zanele Muholi
Zilia Sánchez
Em 2024, todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas; textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais com narração, legendagem e interpretação em Libras que descrevem e comentam os espaços e as obras. Os conteúdos podem ser utilizados por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados. Os conteúdos ficam disponíveis no site e canal do Youtube do museu.
Visitas acessíveis
Pessoas com deficiência podem fazer uma visita acompanhada pela equipe MASP. É só solicitar através do e-mail: acessibilidade@masp.org.br. As inscrições são confirmadas mediante disponibilidade.
Conteúdos audiovisuais
Com narração, descrição, legendagem e interpretação em Libras - os conteúdos audiovisuais acessíveis são desenvolvidos a partir dos textos curatoriais, apresentando um panorama do que pode ser visto na exposição.
Caderno com textos e legendas em pdf acessível
Os cadernos acessíveis são compostos por todos os textos e legendas das exposições, em fonte ampliada, além de instruções com relação às salas de exposição, disposição das obras nas paredes, possíveis fluxos e circulação pelos ambientes e breve descrição do espaço. Através do pdf acessível, o visitante pode habilitar o leitor de tela e ouvir todo o conteúdo textual das mostras e suas orientações espaciais.