Filho de imigrantes alemães instalados em Porto Alegre, Pedro Weingärtner (1853-1929) teve sua iniciação artística com seu pai e irmãos, tendo a litografia como uma prática de tradição familiar. Durante sua formação, o governo imperial de Dom Pedro II fomentava a produção de uma arte nacional segundo as tendências acadêmicas e realistas da arte europeia, atendendo à idealização regional do Brasil, sobretudo de seu interior. O monarca foi mecenas do artista, concedendo-lhe uma bolsa de estudos para que completasse sua formação na Europa. Weingärtner ficou conhecido por suas imagens da vida no interior gaúcho, representando de maneira atenta e quase documental a adaptação e o cotidiano dos imigrantes europeus em terra e clima tropicais. Na tela A desolada, uma mulher sucumbida sobre uma sombrinha desvia o olhar de uma humilde construção em ruínas – o possível motivo de sua desolação. Do telhado dessa casa, uma fumaça indica um incêndio recém-apagado. O fundo da tela é marcado por uma massa esverdeada e a ausência de detalhes faz com que pareça larga a distância entre a vegetação abundante e a árida paisagem em que se encontra a personagem. Em oposição a este fundo difuso, fora de foco, Weingärtner pintou minuciosamente a roupa da mulher, os escombros e os cactos floridos, conduzindo o olhar do observador para a relação intrincada entre esses elementos. A ausência de construções e a aridez da vegetação ao redor da mulher amplificam ainda mais a sensação de desamparo e solidão vividos pela imigrante nessa cena.
— Equipe curatorial MASP, 2020