MASP

Jean-Auguste Dominique Ingres

A Virgem do véu azul, 1827

  • Autor:
    Jean-Auguste Dominique Ingres
  • Dados biográficos:
    Montauban, França, 1780-Paris, França ,1867
  • Título:
    A Virgem do véu azul
  • Data da obra:
    1827
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    80 x 66,5 x 3 cm
  • Aquisição:
    Compra, 1958
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00059
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Ingres foi aluno de Jacques-Louis David (1748-1825), figura central do neoclassicismo francês. Ainda jovem, afirmou-se recebendo importantes encomendas oficiais do regime napoleônico. Em 1806, viajou a Roma, onde permaneceu até 1820, quando se mudou para Florença. Na Itália, tornou-se um dos retratistas mais requisitados. Voltando a Paris em 1824, consagrou‑se líder da escola clássica francesa. Eleito membro da academia, abriu um ateliê muito concorrido e, durante a vida, foi considerado pelo meio oficial o maior artista francês. Seus inúmeros desenhos mostram como Ingres possuía uma enorme erudição que se estendia da pintura dos vasos gregos à arte maneirista. Soube reunir todas essas referências em suas composições por meio do desenho, pensado de forma puramente decorativa, ou seja, em função do equilíbrio formal e sem preocupações naturalistas. Duas das obras de Ingres do MASP, Cristo abençoador (1834) e A Virgem do véu azul (1827), representam temas religiosos. Historicamente, os gestos dessas figuras remontam a narrativas bíblicas específicas, mas também têm a função de orientar os fiéis à devoção. As mãos de Cristo, abertas e voltadas para cima, eram assim retratadas nos primórdios do cristianismo; era como ele ensinava a rezar o pai-nosso. Já as mãos de Maria, juntas, seguem a tradição medieval e manifestam humildade e submissão.

— Equipe curatorial MASP, 2015




Por Núcleo de Conservação do MASP
O Cristo abençoador (1834) e A Virgem do véu azul (1827), ambas do acervo do MASP, são duas pinturas a óleo sobre tela, esticadas em chassis com cunhas, realizadas pelo pintor francês Jean-Auguste Dominique Ingres . Em 2019, foram feitas análises científicas nas duas pinturas pelo Núcleo de Conservação do museu e pelas equipes do Instituto de Física da USP (IFUSP) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Os exames permitiram elucidar detalhes sobre a técnica pictórica e os materiais utilizados pelo artista, bem como sobre as intervenções de restauro antigas e o estado de conservação de ambas as obras. A reflectografia no infravermelho (realizada pela equipe do IFUSP) é uma técnica na qual a radiação penetra as camadas mais externas da obra, como a pintura e o verniz, até chegar à de preparação, trazendo informações tais quais desenhos subjacentes e outros elementos invisíveis ao olho nu. Era comum que os artistas realizassem desenhos preparatórios antes de aplicar as camadas de pintura; essa primeira intenção (ou etapa criativa) poderia ser modificada ao longo do processo. As obras de Ingres do MASP apresentam desenhos preparatórios bastante interessantes, já que, em ambas, o pintor parece ter modificado a composição original durante a realização: observa-se, por exemplo, que o artista mudou o braço esquerdo da Virgem para colocar a mão em posição de prece. No caso do Cristo, observamos um desenho bem evidente nas mãos e na túnica, com pequenos traços marcados. Também é possível inferir que o artista teria pensado, num primeiro momento, em pintar o Cristo sem a túnica devido a presença do desenho bem discernível do torso nu, que foi depois oculto pela vestimenta.

— Núcleo de Conservação do MASP, 2021

Fonte: Instagram @masp 30.06.2021




Por Luciano Migliaccio
Encomendado em 1824 pelo conde Pastoret, A Virgem do Véu Azul é inspirado na figura da Virgem do famoso Voto de Luís XIII, exposto no Salon daquele ano (Montauban, Catedral de Notre-Dame) e encomendado por Luís XVIII. Delignières (1890, pp. 494-495) opina que este quadro e seu pendant, representando Cristo Abençoador, são talvez réplicas realizadas pelo próprio artista, o que não se coaduna com o caráter de Ingres, que variava sempre sutilmente as composições semelhantes. Para Momméja, tratar-se-ia de um estudo para a Virgem do Voto de Luís XIII, retomado mais tarde e transformado num quadro independente. Ingres refere-se a esta Virgem em uma carta ao conde Pastoret, de 31 de agosto de 1827: “Je m’empresse de vous envoyer la Vierge. Je suis bien contrarié de ne pas vous la donner toute vernie avec l’autre tableau, ouvrages que j’espérais terminer bien avant aujourd’hui” (Lapauze 1911, p. 280). A obra foi litografada por Sudre, Herbert e P. Bellierd. O gesto das mãos, que constitui a maior novidade em comparação com o Voto, será retomado por Ingres em 1841 na Virgem da Óstia (Moscou, Museu Pushkin), primeira de várias composições parecidas. O rosto da figura é inspirado em vários modelos de Rafael, em particular na Virgem dos Candelabros.

— Luciano Migliaccio, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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