Muitos dos trabalhos de Leonilson são reflexões poéticas e pessoais sobre sua vida e o mundo, assumindo aspectos autobiográficos. Os temas nesse diário escrito, desenhado e pintado são o amor e os amantes, os sentimentos e a sexualidade, o corpo e a doença — o artista descobriu ser HIV+ em 1991. Desse mesmo ano é Agora e as oportunidades, uma pintura capital em sua obra. Ao lado da figura desenhada em preto que parece fundir diversos corpos, lemos: “sou um homem só, sou dois”, “agora e as oportunidades”; abaixo dela: “tenho quase 2 mts e estou só há várias noites”. Trata-se de um personagem fabuloso, evocando um ser mitológico; solitário e dividido, com quatro pernas e cabeças, ele caminha para diversos lados. Leonilson tinha interesse no minimalismo e no monocromo branco, daí o branco que cobre as palavras e os desenhos e ocupa o vasto fundo da pintura com paleta de cores reduzida. Entretanto, ele nunca assumiu o frio rigor cerebral e o despojamento ascético dos artistas minimalistas; ao contrário, seu despojamento é utilizado para dar dramaticidade e ênfase poética a suas narrativas tão quentes. À direita, na pintura, Leonilson desenhou seis copos e as palavras “os negros”, “os homossexuais”, “os judeus”, “as mulheres”, “os aleijados”, “os comunistas”. Trata-se sem dúvida do trabalho mais eloquentemente político do artista, daí também sua importância. Em suas palavras: “Eu percebo a segregação que existe. E eu, é óbvio, eu faço parte de uma dessas minorias”. Leonilson viria a falecer em consequência da Aids dois anos depois, aos 36 anos.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2022