A obra Éramos as cinzas e agora somos o fogo integra a série Pardo é papel — jogo de palavras em que "pardo" designa tanto o suporte da obra (papel precário e não tradicional nas artes plásticas) quanto um eufemismo considerado racista que busca evitar denominações como "negro" ou "preto". O título faz referência a versos de uma música do rapper carioca BK, e expressa de múltiplas maneiras a resistência cotidiana frente à violência do racismo estrutural no Brasil. Maxwell Alexandre se apropria frequentemente de imagens encontradas na Internet, algumas com origens identificáveis, outras desconhecidas ou reprocessadas. Neste trabalho, o corpo negro ocupa diferentes espaços, de uma formatura universitária a shows de rap, de cenas de resistência à violência e intimidação policial a protestos na cidade. Características como o cabelo descolorido, o uniforme da rede pública escolar do Rio de Janeiro e o padrão geometrizado que cobre o fundo — uma referência às piscinas de plástico muito presentes nas periferias — são destacadas. Além de representar o cotidiano das comunidades cariocas, como a Rocinha, a obra de dimensões monumentais reúne referências a personagens afrodescendentes anônimos e célebres, como o pintor estadunidense Jean-Michel Basquiat, o artista brasileiro Arthur Bispo do Rosário, e a cantora estadunidense Nina Simone, que convivem com um conhecido cartaz feito em 1924 pelo artista construtivo russo Alexander Rodchenko, e uma cena do filme Cristo Rey, de 2013, da diretora dominicana Leticia Tonos Paniagua. Em 2018 a obra foi exposta na parede de abertura da galeria do primeiro andar do MASP durante Histórias afro-atlânticas, tornando-se uma espécie de emblema para a icônica mostra que ganhou reconhecimento internacional.
— Matheus de Andrade, assistente de pesquisa, 2020