Emanoel Araújo é um artista múltiplo e suas esculturas de grandes dimensões são expressivas de uma produção vibrante, que faz jus ao impacto de suas ações para a arte (afro-)brasileira como curador e diretor de museus, com destaque para a criação do Museu Afro Brasil em 2004. Na obra Exu, há um forte diálogo entre a abstração geométrica e as estéticas africanas, muito presentes em máscaras e esculturas. Além disso, o título e os aspectos formais da escultura aludem à divindade iorubá da comunicação entre mundos: o garfo de três pontas que simboliza o orixá Exu está visível entre o centro e a parte inferior da escultura, em destaque. O encontro da base do tridente é um losango cravejado de pregos e, alinhado a este, há outro losango, do qual desponta um objeto fálico. Convergentes no centro da escultura, este objeto e a haste central do tridente aludem ao masculino, algo recorrente na iconografia de Exu. Duas formas triangulares, uma na base e outra no alto e os três cravos também remetem ao “três”; o losango central revela triângulos por meio da tridimensionalidade, bem como uma linha que une as suas pontas e remete à encruzilhada, o lugar de Exu.
— Equipe curatorial MASP, 2021
Por Jéssica Varrichio
Hélio Oiticica é uma das principais figuras da arte contemporânea e suas experimentações expandiram as categorias da arte, dando um novo fôlego para a vanguarda brasileira que despontava a partir dos anos 1950. A pintura Sem título é do começo de sua carreira, quando havia uma forte influência das vanguardas europeias no Brasil, especialmente o Suprematismo e De Stijl, tendo como pontos de referência as obras do pintor russo Kazimir Malevich (1879-1935) e do artista holandês Piet Mondrian (1872-1944) respectivamente. A obra pertence a um momento de intensa modernização estético-político-social, em que a identidade brasileira passava por grandes renovações e por um desejo de começar do zero, seja político, com a decisão de mudar a capital para Brasília, seja plástico, com a ruptura figurativa e literal de uma visualidade brasileira. Aqui especificamente esse desejo se concretiza com o quadrado preto no canto direito, em alusão ao Quadrado negro (1915) de Malevich, que muitos críticos consideram o ponto zero da pintura. Nessa obra, referência para Oiticica, as cores sóbrias, as formas que derivam de uma razão dita "intuitiva", desvinculam o artista de uma representação da natureza. Livre dos objetos, resta a pura sensibilidade. Em Sem título, os três losangos com inclinações diferentes tocam as margens expandindo e tensionando a pintura e seus limites. Não é apenas um exercício formal, nele há o embrião de uma produção que consegue ser ao mesmo tempo precisa, rigorosa, ritmada, investigativa e aberta a criação de novas linguagens e formas de expressão.
— Jéssica Varrichio, 2022