Lasar Segall nasceu na Lituânia, mas ainda na adolescência mudou-se para a Alemanha, onde frequentou as Academias de Belas Artes de Berlim e de Dresden. Os movimentos impressionista e pós-impressionista influenciaram o início de sua carreira, mas a partir do início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Segall passou a empregar uma linguagem pictórica que privilegiava o caráter psicológico e emotivo de suas figuras, vinculando-se a grupos expressionistas. Embora tivesse passado rapidamente pelo Brasil em 1913, foi em 1923 que o artista se mudou de vez para o país, onde participou vivamente da cena artística do modernismo e permaneceu até sua morte. Pintado no período da Segunda Guerra Mundial, Guerra faz parte de uma série de quadros de grande dimensão que retratam os dramas da humanidade, como Pogrom (1937), Navio de emigrantes (1939-41), Campos de concentração (1945) e derivados dos Cadernos de Guerra. Segall, de origem judaica, ocupa praticamente toda a tela de Guerra com uma multidão anônima de corpos dilacerados. Os soldados não levam bandeiras nem emblemas e têm o rosto escondido por debaixo de capacetes cinzentos – à exceção de dois personagens, cujas faces se delineiam um pouco abaixo da linha do horizonte, olhando para o céu. Em primeiro plano, um corpo decapitado caminha cambaleante em direção ao meio da pintura.
— Equipe curatorial MASP, 2017
A obra Guerra foi doada ao museu por vontade do artista. Nascida nos anos de Dresden, seu tema instala-se no coração do complexo universo emocional do expressionismo alemão do imediato pós-guerra, com suas impregnações críticas, oscilantes entre o niilismo e o engajamento social. É de se notar, mais que alguma reminiscência cubista, o interesse pela escultura africana e a interferência das simplificações formais, no tratamento redutivo dos volumes, próprias da xilogravura, técnica muito apreciada pelo expressionismo e intensamente utilizada naqueles anos pelo artista. Mais tarde, Segall viria a regressar a tais simplificações, em sua xilogravura Mulher do Mangue com Persiana ao Fundo, do Museu Lasar Segall, que retoma, inclusive, ao transpor para a situação brasileira os internos sórdidos e desesperados da Alemanha do pós-guerra, alguns elementos da composição do Masp. Interior de Indigentes aproxima-se de modo geral da grande tela (140 x 173 cm) Interior com Família Enferma, de 1921, conservada em coleção particular, São Paulo, podendo inclusive ser considerada um primeiro esboço desta tela.
Por suas dimensões, que a aproximam do gênero mural, pela temática social e por seu tratamento épico, a composição é típica dos anos da Segunda Guerra, durante os quais tantos artistas exprimem suas inquietações diante dos horrores do nazi-fascismo e do conflito bélico em geral. A tela pertence a uma série de obras de temática similar, oriundas em geral do caderno Visões da Guerra, no qual incluem-se também Pogrom (1936-1937), Navio de Emigrantes (1939-1941) e outros. De 1941 são os desenhos, em certa medida preparatórios para a obra em questão, reunidos em uma série denominada Guerra.
— Autoria desconhecida, 1998