MASP

Ateliê de Agostino di Duccio

Madona com o Menino e quatro anjos, 1473-77

  • Autor:
    Ateliê de Agostino di Duccio
  • Dados biográficos:
  • Título:
    Madona com o Menino e quatro anjos
  • Data da obra:
    1473-77
  • Técnica:
    Relevo em estuque policromático
  • Dimensões:
    87 x 81 cm
  • Aquisição:
    Doação Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, 1976
  • Designação:
    Escultura
  • Número de inventário:
    MASP.00998
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS


Por Luciano Migliaccio
A Madona – Madona com o Menino e Quatro Anjos – está representada de meio-corpo, sentada em um trono, no interior de uma auréola feita de raios e em forma de amêndoa. Sustenta o Menino sobre o ventre e toca-lhe o pezinho com a mão esquerda. Rodeando o trono, aparecem quatro figuras de anjos que seguram lírios. Logo abaixo há um pequeno cartaz com uma inscrição pouco legível, algo como “Salve Regina Angelorum”, e um brasão, também este pouco visível. A inscrição foi, provavelmente, acrescentada mais tarde. A iconografia possivelmente deriva da literatura religiosa popular da Úmbria, podendo-se pensar, em particular, nos famosos versos da lauda de Frei Jacopone, de Todi, “Filho, filho, cândido lírio”, nos quais a imagem das flores simbolizam o sacrifício de Cristo, vítima inocente. Existem várias réplicas dessa composição, em terracota colorida, no Museu Nacional do Bargello, em Florença, e em estuque no Los Angeles County Museum of Art (Valentiner 1951, p. 72). Finalmente, há uma réplica em terracota vermelha, de formato curvo, de localização desconhecida, documentada por uma fotografia que se conserva no Deutsches Kunsthistorisches Institut, em Florença (negativo 463871). O relevo do Masp é um molde daquele do Bargello. A imagem é muito próxima de um relevo em mármore no Museu do Louvre, a chamada Madona Auvillers, da qual existe uma réplica em estuque na coleção Thyssen (K 14), apresentando variações no véu, no penteado e na posição da mão direita da Madona, e na figura do anjo à esquerda. A discussão da obra paulista depende portanto das relações com este grupo de obras. Toda a bibliografia coincidiu em atribuir a composição ao escultor florentino Agostino di Duccio, datando-a entre 1457 e 1461 (Bacci p. XVI, Pope-Hennessy, p. 325), época da estada do escultor em Perúgia. Apenas Brunelli (1907, p. 147), seguido por Adolfo Venturi (1908, p. 406), considerou duvidoso o relevo do Louvre, e não excluía a possibilidade de ser uma falsificação do século XVIII. Na opinião de Pope-Hennessy, seguido pela literatura posterior, não existem dúvidas de que a Madona Auvillers seja uma obra autógrafa de Agostino di Duccio. Para Radcliffe (1992, pp. 56-57), esta seria o modelo do estuque da Thyssen, enquanto a terracota do Bargello, possuindo todas as características do modelado livre em argila, poderia ser a primeira idéia de Agostino para a obra em mármore do Louvre, realizada mais tarde, como foi sugerido por Michel (1903, p. 103). Portanto, a obra do Masp viria a ser um molde, realizado numa época imprecisa, a partir da obra florentina. Na opinião da crítica, a composição do Bargello revela uma execução menos habilidosa de idéias presentes no mármore do Louvre e pode ter sido elaborada, a partir deste, no ateliê do mestre, durante sua vida, ou até mais tardiamente. Ela vem referida à última fase da atividade de Agostino. De fato, está ausente aí o linearismo insistido no planejamento característico dos relevos de San Bernardino, enquanto se divisam ecos da pintura florentina do final dos anos 60, como as primeiras Madonas de Botticelli – aquela que está no Louvre, com cinco anjos, por exemplo, datável de 1469, aproximadamente. É evidente, ainda, no conjunto, a adesão de Agostino, naqueles anos, à cultura figurativa da Úmbria, densa de colorações sienesas, ao modo de Matteo Giovanni, e, em particular, ao contato com o pintor Pier Matteo d’Amelia. Há uma réplica, em contrapartida, da Madona com o Menino, em uma pintura sobre a parede do túmulo de Pietro Cesi, no Duomo de Narni, datado por Todini como de c.1477, da qual encontramos recordações na Madona de Pier Matteo, que fazia parte do políptico do Bode Museum de Berlim, datável de 1481, e em uma outra, que está em Londres, na Mackley Gallery. A fisionomia da Virgem é comparável aos rostos nos relevos que representam Tobias e o Anjo, da catedral de Acquapendente, e também àquele que representa a Caridade sobre o sepulcro do bispo Geraldini, de aproximadamente 1478, no Duomo de Amélia.

— Luciano Migliaccio, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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