Vicente do Rego Monteiro iniciou sua formação na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Depois de morar em Paris entre 1911 e 1914, retornou ao Rio, fugindo da Primeira Guerra Mundial (1914‑18). Da Europa, trouxe a referência da arte cubista, com o interesse em sintetizar as formas e articular figuração e geometria. Monteiro encontrou a correspondência a esse interesse na arte marajoara, dos indígenas que habitaram a Ilha de Marajó, na foz do Amazonas, no período pré-colonial brasileiro. Para tanto, pesquisou a fundo as coleções do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Esses estudos foram fundamentais no seu trabalho mais além das artes plásticas: o artista escreveu Lendas, crenças e talismãs dos índios do Amazon (1921) e fez as máscaras e os figurinos do balé Legendes indiennes de l’Amazonie [Lendas indígenas da Amazônia] (1923). Na pintura Menino nu e tartaruga (1923), o desenho estilizado da face das duas personagens faz lembrar uma cerâmica em alto-relevo. Da mesma maneira, os tons de marrom correspondem aos vários tons da argila. Em algumas partes da pintura, Monteiro transformou o que seria sombra em luz, para manter as linhas marcadas pelo contraste entre claro e escuro. A mescla entre a herança das vanguardas e a matriz indígena brasileira faz do trabalho de Monteiro um prelúdio do movimento antropofágico no Brasil, além de inscrever na história do modernismo uma poética inspirada na cultura da Amazônia.
— Equipe curatorial MASP, 2017
A exposição dedicada ao artista realizada por Zanini no MAM/Se, em 1997, demonstrou a existência de uma outra versão, praticamente idêntica a Menino Nu e Tartaruga, a obra do Masp. Conservada em coleção particular em São Paulo é datada de um ano após o óleo do Masp, isto é, de 1924.
— Autoria desconhecida, 1998