As pinturas de Carmézia Emiliano retratam atividades cotidianas, festas, mitos e hábitos da nação macuxi, oriundas da região fronteiriça com a Venezuela e a Guiana, perto do monte Roraima. A profusão de detalhes espelhados, intrincados e interconectados em suas obras ressaltam a dimensão do coletivo e sua confluência com a natureza e o entorno. Parixara é uma das obras comissionadas à artista para a mostra coletiva Histórias da dança. O termo é utilizado para designar um ritual de comemoração e agradecimento à natureza, de culto à caça e à colheita, e é um tema recorrente no repertório iconográfico de Emiliano. Na versão do MASP, a composição organizada em diferentes registros é particularmente precisa e quase simétrica, e expressa também o movimento. Duas ocas com suas respectivas redes e duas árvores estão posicionadas no eixo central da parte superior da pintura. As figuras ocupam o resto do campo pictórico em três fileiras sobrepostas e alternam a direção de sua dança-caminhada de uma para a outra. A repetição de módulos de indivíduos com o mesmo traje de palha e seus bastões-instrumentos ornados de pequenas esculturas de animais e que adotam posições similares confere um ritmo visual à pintura evocando o compasso marcado dos cantos e o acompanhamento musical dessa prática. Assim, tanto a dança ritual, como as escolhas formais de Emiliano para delineá-la, podem ser lidas a partir de uma cosmovisão na qual cada elemento é parte integrante de um todo harmônico, complementar e interconectado.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2020
Por Amanda Carneiro
Carmézia Emiliano é uma artista indígena macuxi, nascida na comunidade Maloca do Japó, em Roraima. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, capital do estado, quando começou a pintar. Suas telas figuram paisagens, objetos da cultura e cenas cotidianas de sua comunidade. Na tela Aprendendo um grande telhado de sapé abriga um grupo de alunos atentos à professora. Na lousa, afixada em uma parede de pau-a-pique, lê-se a tradução da palavra vovó, para o macuxi, ko’ko’. Ao redor, observa-se a organicidade com que se dá a transmissão de saberes, além da estrutura escolar. Pessoas de diferentes idades aprendem técnicas de fiar algodão e tecer, produzir cerâmica, bem como trançar fibras naturais para a realização de objetos diversos, como espremedor de mandioca, cestaria e redes de dormir. O chão de terra batida ocupa boa parte do quadro e abriga a vida comunitária. A segunda tela chama-se Parixara, termo utilizado para designar um ritual de comemoração e agradecimento à natureza, de culto à caça e à colheita. Nesta pintura, a composição é bastante estruturada, precisa, quase simétrica, expressando movimento. Duas ocas com suas respectivas redes e duas árvores estão posicionadas no eixo central da parte superior da pintura. As figuras ocupam o resto do campo pictórico em três fileiras sobrepostas e alternam a direção de sua dança-caminhada de uma para a outra. A repetição de módulos de indivíduos com o mesmo traje de palha e seus bastões-instrumentos—ornados de pequenas esculturas de animais e que adotam posições similares—confere um ritmo visual à pintura, evocando o compasso marcado dos cantos e o acompanhamento musical dessa prática.
— Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, 2021