Pedro Américo é um dos principais nomes da pintura histórica na arte brasileira do século 19. Comissionado por décadas pelo imperador Pedro II (1825-1891), criou imagens emblemáticas para eventos simbólicos a serviço de uma narrativa oficial para o Império brasileiro, mesmo que construídas muito depois do fato histórico ao qual se reportam — como Independência ou morte!, de 1888. Américo foi também historiador, crítico de arte e político, elegendo-se pelo seu estado da Paraíba como deputado constituinte em 1890. Paz e concórdia (1895) é um esboço para a última obra monumental do artista, de 1902, comissionada pelo governo republicano de Prudente de Morais (1841-1902). O trabalho é composto por uma série de alegorias: a Paz, como anjos brancos, e a Concórdia, em cortejo de artistas, saúdam o início da República, que tem corpo de mulher, e o fim da escravidão, representada por um diabo morto ao chão. Os louros ao novo regime remetem à coroação de Pedro I (1798-1834) — como na representação na pintura do viajante francês de Jean-Baptiste Debret, na qual nota-se o seu manto de veludo verde e a estátua de dragão, símbolo dos Bragança, família real do Brasil monárquico de origem portuguesa. Ao fundo, há um grande edifício, dentro do qual encontra-se Independência ou morte!, visível sobretudo na tela de 1902, exposto sob um arco evocando um triunfo militar. Se, por um lado, a obra explicita o discurso oficial do governo em forjar na proclamação da república uma imagem de ruptura ou revolução — quando, como se sabe, foi instaurada por um golpe — por outro, Américo distribui no quadro elementos que evidenciam os seus elos de continuidade conservadora com o passado.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2021
Por Guilherme Giufrida
Onde está Pedro Américo? Em 2018 organizei com Jéssica Varrichio um livro com esse título, em que procurávamos questões contemporâneas, tais como o papel das imagens na disputa política atual, na obra de um dos principais artistas da pintura histórica do século 19 no Brasil. Comissionado pelo imperador Dom Pedro II, Pedro Américo criou cenas para eventos simbólicos a serviço de uma narrativa oficial para o império brasileiro – como ‘ndependência ou morte!, de 1888. Um dia, caminhando pelos cavaletes, reencontro Pedro Américo no acervo do MASP. Paz e concórdia (1895) é um esboço para a última pintura monumental do artista de 1902, ou seja, já no governo republicano de Prudente de Morais, quem a comissionou. A tela é composta por alegorias: a Paz, como anjos brancos, e a Concórdia, em cortejo de artistas, saúdam o início da República, que tem corpo de mulher, e o fim da escravidão, representada por um diabo morto ao chão. Os louros ao novo regime remetem à coroação de Dom Pedro I: nota-se o seu manto de veludo verde e a estátua de dragão, símbolo dos Bragança, família real do Brasil monárquico. Ao fundo, há um grande edifício, em que vemos o quadro Independência ou morte! exposto sob um arco evocando um triunfo militar. Se por um lado a obra explicita o discurso oficial do governo em forjar na proclamação da república uma imagem de ruptura ou revolução – quando, como se sabe, foi instaurada por um golpe – por outro, Américo distribui no quadro elementos que evidenciam os seus elos de continuidade conservadora com o passado.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2021
Por Guilherme Giufrida
Pertencente ao acervo MASP, a obra Paz e concórdia, realizada em 1895 pelo pintor brasileiro Pedro Américo, é um esboço para a última obra monumental do artista, de 1902, comissionada pelo governo republicano de Prudente de Morais (1841-1902), segundo presidente do Brasil. Américo é considerado um dos principais nomes da pintura histórica na arte brasileira do século 19, além de também ter sido historiador, crítico de arte e político. Por um lado, a pintura do MASP explicita o discurso oficial do governo da época, que buscava forjar na proclamação da república uma imagem de ruptura ou revolução—quando, como se sabe, foi instaurada por um golpe; por outro, Américo distribui no quadro elementos que evidenciam os seus elos de continuidade conservadora com o passado por meio de uma série de alegorias. A Paz, como anjos brancos, e a Concórdia, em cortejo de artistas, saúdam o início da República, representada como uma mulher, e ainda o fim da escravidão, representado por um diabo morto ao chão. Os louros ao novo regime remetem a representações da coroação de Pedro I (1798-1834) e a estátua de dragão, símbolo dos Bragança, à família real do Brasil monárquico. Ao fundo, há ainda um grande edifício, dentro do qual encontra-se Independência ou morte!, exposto sob um arco evocando um triunfo militar.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2021