MASP

Giovanni Boldini

Retrato de homem com cartola: o poeta Hanvin, o homem do fígaro, 1985-90

  • Autor:
    Giovanni Boldini
  • Dados biográficos:
    Ferrara, Itália, 1848-Paris, França ,1931
  • Título:
    Retrato de homem com cartola: o poeta Hanvin, o homem do fígaro
  • Data da obra:
    1985-90
  • Técnica:
    Óleo sobre madeira
  • Dimensões:
    49 x 25 x 1 cm
  • Aquisição:
    Doação Assis Chateaubriand, 1947
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00042
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



As obras de Boldini no Masp – Retrato de Homem com Cartola: O Poeta Hanvin, o Homem do “Figaro”, Senhora com Chapéu de Palha (Passeio Matinal) e Senhora Sentada (A Conversa) – foram detidamente estudadas por Camesasca por ocasião de exposições realizadas pelo Masp em Martigny, na Suíça (Fondation Gianadda, 1988), e em Berlim (Staatliche Kunsthalle, 1989) na Alemanha, estudo cujas conclusões são a fonte fundamental desta e das duas notícias catalográficas seguintes. Desconhecem-se outras informações sobre o quadro e sobre o personagem retratado, cujo nome e relações com o jornal francês Le Figaro são reportados no catálogo da Bienal de Veneza de 1932. Camesasca propõe que se associe com cautela ao quadro um desenho a lápis preparatório para nossa obra (19 x 14,5 cm, Ferrara, coleção privada), publicado por Doria (1982, p. 74), que o data de 1900. A se verificar correta, tal relação implicaria numa datação conjunta para ambas as obras –, que o autor propõe antecipar para 1895-1900, comprometendo a datação em torno de 1890, proposta por ele mesmo anteriormente (1970, n. 224). Um detalhe do quadro Retrato de Homem com Cartola: O Poeta Hanvin, o Homem do “Figaro” , não comentado por Camesasca, é particularmente interessante. O retratado faz-se representar ao lado de duas imagens, das quais uma é certamente uma gravura japonesa. Mais do que um atributo sinalizador de um perfil de gosto pessoal, a presença de estampas japonesas é indicativa de um parti pris, de uma adesão militante a uma bem conhecida voga européia, especialmente parisiense, promovida no final do século por toda uma corrente “progressista” de críticos, homens de cultura e, naturalmente, artistas, dentre os quais Manet, Van Gogh, Whistler e tantos outros. O fato não surpreende, de resto, em um homem de letras, um dandy com algum acesso ao jornal em que Proust devia publicar seus primeiros escritos, e que devia cuidar para ter sua imagem associada ao bon combat pelo triunfo da arte moderna. Em uma etiqueta no verso, lê-se: “n. 150 inv. At. Boldini Emilia Cardona Boldini”, atestando que a obra encontrava-se no ateliê do mestre por ocasião de seu falecimento. Sua ausência na publicação que a viúva consagrou a esse grupo de obras em 1937 indica provavelmente que a obra foi vendida antes que o livro fosse redigido. Camesasca tende, após alguma hesitação (1970, n. 346), por uma datação “pouco após 1902, sobretudo levando-se em consideração afinidades de estilo com um tema idêntico tratado En promenade (Camesasca 1970, n. 385), que pode ser situado em torno de 1904-1905. A existência de duas composições muito similares não é excepcional em Boldini, que era pródigo em esboços grandes e pequenos quando se tratava de abordar um quadro particularmente árduo. (...) Quadros como este suscitam a questão de saber se Boldini antecipou de alguma maneira o futurismo. Negando esta relação, Borgorelli afirma que o pintor de Ferrara parece, ao contrário, não ter ignorado a teoria da luz de Maxwell (1864), então ainda em vigor, prévia à revolução de Einstein. Assim, com sua pintura que, para integrar o objeto ao entorno, propaga-se em um espaço desmaterializado e vibrante, Boldini aproximar-se-ia não apenas de Toulouse-Lautrec e Medardo Rosso, mas também de Giacometti e de outros artistas contemporâneos”. Ignora-se quem seja o modelo do quadro Senhora com Chapéu de Palha (Passeio Matinal), bastante próximo, por sua concepção, composição e estilo, ao retrato de Madame Goerges Victor-Hugo (119 x 102 cm), exibido em Paris no Salão de 1904, o que dá uma confirmação suplementar à datação de 1904-1905 proposta por Camesasca (1970, n. 386). Trata-se em todo caso de um exemplo consumado de como o retrato feminino em Boldini é indiferente à prospecção psicológica e de como se propõe, ao contrário, a transfigurar o modelo em uma idéia de elegância, quase imaterial, quase implacavelmente biológica, em sua abordagem do mundo feminino. Os escritos de Huysmans e de Valéry sobre o modelo feminino em Degas puseram já em evidência uma dimensão algo misógina do artista, que encontra talvez em Boldini uma imagem ao mesmo tempo invertida e equivalente.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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