Saldanha tinha dotes de carpintaria, tendo produzido alguns de seus despojados móveis e molduras. Foi a partir de uma ripa usada para sua moldura que a artista criou, em 1967, a Ripa. Naquele ano, ela escreveu: “Um dia tive a vontade de eliminar chassis e telas, sair do retângulo. Só me interessavam as verticais de cores. E mais e sobretudo ficar com o mínimo: uma ripinha e uma ripinha encostada na parede, apoiada no chão, eliminando o rodapé”. Assim, a Ripa é uma pintura mínima e radical: se uma pintura é frequentemente composta por um chassi de madeira e um pedaço de tecido, a Ripa é uma única longa e delgada peça de madeira, sem tela, sem linho, lona ou pregos. Encostada na parede, ela também se torna um objeto, com sua existência no espaço, questionando, portanto, as distinções tradicionais entre pintura e escultura. O que a artista alcança é a autonomia da moldura, que se torna um suporte para a pintura, um objeto tridimensional pintado. A extrema simplicidade da Ripa não impediu que Saldanha desenvolvesse um excepcional e complexo trabalho de pintura, utilizando suas ricas, sutis e sedutoras variações e combinações de cores e pinceladas. ‘Pintei durante oito meses, cada dia uma Ripa, e fui enchendo a casa’. Fotos de época mostram a artista em seu ateliê cercada por uma multidão delas. O despojamento do suporte possibilita que as obras sejam remanejadas, com infinitas possibilidades de composição e ritmo.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2023