Nas abstrações geométricas da artista centenária Jandyra Waters, é recorrente o uso de
composições centrífugas, em que diagonais simétricas criam um movimento no olhar que vai do
centro para a borda do quadro, sugerindo algo que emana de dentro para fora. A combinação de
cores brilhantes e inusitadas (bem diferente do gosto comum do abstracionismo geométrico)
gera uma alternância entre figura e fundo, enfatizando a vibração. Na obra do MASP, a sensação
de algo que irradia a partir do centro é bastante enfática. No meio do quadro, losangos azuis e
marrons se intercalam, seguidos por triângulos alongados e, depois, duas grandes áreas
trapezoidais, criando uma gradação. Desde a década de 1950, Waters experimentava com a
geometria, mas, só a partir dos 1970, a artista consolidou essa linguagem como seu principal
meio de expressão, utilizando uma paleta de cores não puras e sempre chapadas. Se a
geometria na tradição brasileira, em geral, está ligada à tentativa de racionalização, como no
concretismo, o neoconcretismo buscou aliar essa vertente com a experiência do corpo e da
sensibilidade. No caso de Waters, a geometria está ligada a conteúdos místicos. Outros
elementos na obra da artista que problematizam a suposta racionalidade da geometria,
inserindo elementos esotéricos nessas imagens, são a presença de frestas, janelas e mandalas,
que sugerem um espaço interior, associado à ideia de espiritualidade. Em 1947, Waters estudou
pintura na Inglaterra, onde morou até 1950. Em 1951, de volta a São Paulo, estudou com artistas
como Marcelo Grassmann (1925-2013) e Yoshiya Takaoka (1909-1978), além de história da arte
na USP. Waters também publicou livros de poesia nos quais, além da recorrência de temas
como a eternidade, o infinito e outros assuntos metafísicos, sua escrita guarda o mesmo caráter
sintético de sua pintura.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2021