Oriundo de uma família proletária de imigrantes italianos, Alfredo Volpi (1896-1988) viveu à margem dos movimentos de vanguarda e da agitação cultural da São Paulo das décadas de 1910 e 1920. Desde criança, trabalhou como marceneiro entalhador. Paralelamente aos seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios, desenvolveu uma prática de pintura de observação sem desenho prévio, realizada sobre suportes de pequenas dimensões e com materiais baratos, como cartão ou madeira, como se observa em Sem título, que data possivelmente do final da década de 1910 ou início de 1920. O estilo de Volpi, nesses anos de formação, foi provavelmente influenciado pela escola dos macchiaioli, grupo de pintores toscanos que precedeu os impressionistas, caracterizados pelo uso de gradações tonais rebaixadas e tintas empastadas por pinceladas estruturadas. A tela Sem título representa uma paisagem rural, provavelmente da região de Mogi das Cruzes, São Paulo, frequentada por Volpi desde esta época e de onde o pintor tiraria, a partir da década de 1940, a inspiração das festas de São João para suas célebres pinturas com o tema das bandeirinhas juninas. Aqui, o céu, a fumaça e o lago são pintados em tons sóbrios de cinza e azul, que colorem também as vestes do pescador. A paleta terrosa e arenosa marca as construções ao fundo, e alguns verdes acinzentados destacam a vegetação que circunda o lago. As cores do céu rebatem as da água que, combinadas, ocupam grande parte da pequena composição. Nesses primeiros trabalhos, chamados por alguns críticos de manchas, pode-se notar que, desde o início de sua carreira, Volpi desenvolveu composições marcadas pela economia cromática, organizadas por sutis faixas de tons, mostrando como o pintor já se atentava de modo sofisticado para a ordenação estrutural da pintura.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018