Em 1992, a cantora baiana Daniela Mercury, então em início de carreira, se apresentou no Vão Livre do MASP em um horário que correspondia à pausa para o almoço na Avenida Paulista. Para a surpresa geral, um público espontâneo de cerca de 20 mil pessoas se aglomerou e congestionou a Paulista, contagiadas pelo axé music. Dançando ao som de hits então desconhecidos em São Paulo como O canto dessa cidade, a plateia exaltada fez vibrar a estrutura do icônico edifício de Lina Bo Bardi (1914-1922), comprometendo a integridade do prédio, a segurança da plateia e também do acervo. Diante disso, a prefeitura de São Paulo teve que interromper o show e o hoje mítico evento é lembrado como o momento que consagrou não somente Mercury, mas o estilo musical na capital paulista. Esse episódio foi o ponto de partida do artista Pedro Marighella , ele também baiano, para o trabalho comissionado no contexto da exposição Histórias da dança. A obra faz parte da série MATA, que se insere em uma investigação de longa data de Marighella sobre o potencial crítico da diversão e da festa. Ela é composta por três elementos: um desenho sobre tela do público de costas representado em escala real com o característico marcador azul sobre fundo branco usado pelo artista; um depoimento de Daniela Mercury que relata o episódio, e uma ilustração digital com a projeção do desmoronamento do MASP, o que poderia ter ocorrido caso o show não tivesse sido interrompido. Mesclando fatos e ficção, Marighella aponta tanto para a força como o perigo que podem incorrer de massas dançando até sincronizarem seus movimentos em uníssono.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2020