MASP

Heitor dos Prazeres

Sem título(A volta da roça), Sem data

  • Autor:
    Heitor dos Prazeres
  • Dados biográficos:
    Rio de Janeiro, Brasil, 1898-Rio de Janeiro, Brasil, 1966
  • Título:
    Sem título(A volta da roça)
  • Data da obra:
    Sem data
  • Técnica:
    Óleo sobre cartão
  • Dimensões:
    40 x 58 cm
  • Aquisição:
    Doação Maurício Buck, 2016
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.01651
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Heitor dos Prazeres viveu no período bastante conturbado após a abolição da escravidão, quando a situação dos desabrigados no Rio de Janeiro piorou com a chegada de migrantes ex-escravizados. Sem assistência do Estado, negros e negras foram às grandes cidades em busca de trabalho; não conseguindo moradia ou sustento, ocuparam precariamente os espaços vazios – caso das primeiras favelas cariocas surgidas nos morros. Prazeres retratou cenários da cidade onde esta população negra se concentrou, a região de “pequena África”. Pintava o cotidiano das famílias, as rodas de samba, a vida boêmia nas ruas da Lapa e do centro (na região do Valongo) e as festas populares. Nesta obra o artista representa trabalhadores negros e brancos voltando da roça com a colheita do dia. Há crianças e adultos, homens e mulheres, e a maneira compactada como o grupo aparece, com os corpos quase se fundindo, sugere a existência de um senso de comunidade e intimidade entre eles. Ao fundo vemos construções simples que nos lembram casinhas de barro e sapé, típicas deste cotidiano humilde do começo do século passado.

— Equipe curatorial MASP, 2018

Fonte: Facebook MASP 13.10.2018




Por Bruno Pinheiro
Em uma entrevista concedida em 1941 ao crítico de arte Carlos Cavalcanti (1909-1973), Heitor dos Prazeres fez o seguinte comentário sobre a obra Sem Título (a volta da roça), do acervo do MASP: “Mas por que agora você está com essa mania de fazer gente fugindo? Que povaréu é esse?”, perguntou Cavalcanti. Prazeres responde: “Não sei bem, não. Gente do morro. Uma ideia que me veio. Não estão derrubando as favelas?”. Naquele mesmo ano de 1941 estava sendo realizada a destruição parcial da praça Onze, no Rio de Janeiro, onde o artista nascera e morava. A região iria integrar a futura avenida Presidente Vargas, que seria inaugurada em 1944, o que levou ao deslocamento forçado de parte dos moradores do bairro. Esse processo não era fato isolado e nem novo. A demolição da praça Onze já estava prevista no plano realizado pelo urbanista francês Alfred Agache (1875-1959) no final da década de 1920 para o Rio de Janeiro — o primeiro plano da cidade a tratar a “favela” enquanto uma tipologia urbana que deveria ser combatida. Apesar de revelar em seu comentário uma relação conflituosa com aquele projeto de cidade, e de ter pintado ao longo de sua trajetória o processo de suburbanização da classe trabalhadora negra do Rio de Janeiro, Heitor dos Prazeres se recusou a mudar-se da praça Onze até fim de sua vida. Região que, ao olharmos em retrospecto, entendemos como central para a formação poética e política do pintor.

— Bruno Pinheiro, 2022



Pesquise
no Acervo

Filtre sua busca