Acervo em transformação é o título da exposição de longa duração da coleção do MASP. As obras são instaladas nos cavaletes de cristal — placas de vidro encaixadas em blocos de concreto — que ficam dispostos em fileiras sem divisórias na sala ampla do segundo andar do museu. O espaço aberto, fluido e permeável da galeria oferece múltiplas possibilidades de acesso e de leitura, eliminando hierarquias e roteiros predeterminados. Retirar as telas das paredes e colocá-las nos cavaletes possibilita ao visitante caminhar entre elas, como em uma floresta de obras que parecem estar suspensas no ar.
Os cavaletes de cristal, desenhados por Lina Bo Bardi (1914-1992) — autora também do projeto do edifício do MASP —, foram introduzidos em 1968, na inauguração da sede do museu na avenida Paulista. Substituídos em 1996 pela divisão da sala por paredes, esses dispositivos foram trazidos de volta em 2015. Desde então, a mostra permanece em constante modificação, como indica seu título, com entrada e saída de trabalhos em razão de empréstimos, novas aquisições e rotatividade. As legendas das obras são posicionadas no verso dos cavaletes, pois a proposta original de Lina Bo Bardi era de que o primeiro encontro do visitante com os trabalhos fosse direto, livre de contextualizações e de informações de autoria, título e data.
Hoje, os trabalhos encontram-se organizados cronologicamente, com os mais recentes nas primeiras fileiras e os mais antigos nas últimas. Entretanto, a cronologia rígida é por vezes quebrada com artistas contemporâneos, a exemplo das inserções de obras de Carla Zaccagnini, Sofia Borges, Dora Longo Bahia e Waltercio Caldas, que permitem fricções entre diferentes períodos históricos, ou, ainda, para articular diálogos temáticos, como na fileira dedicada a paisagens.
Um dos principais critérios de aquisição no MASP enfoca trabalhos que participaram de exposições no museu; por isso, há uma forte presença de obras que estiveram em mostras realizadas durante os ciclos Histórias afro-atlânticas, em 2018, Histórias das mulheres, histórias feministas, em 2019, e Histórias brasileiras, em 2021-22. Nesse contexto, a primeira fileira é inteiramente dedicada a trabalhos de artistas negros, enquanto a segunda, a de artistas mulheres, o que promove a missão do MASP como um museu diverso, inclusivo e plural. O icônico cartaz das Guerrilla Girls, feito em 2017 e aqui exposto, critica a pouca presença de mulheres que havia na mostra do acervo — percentual que era de 6% e que atualmente passa de 20%. Ainda há muito trabalho a ser feito.