A paisagem é o ponto de partida para as pinturas de Lucia Laguna (1941, Campos dos Goytacazes, RJ, vive no Rio de Janeiro). Dos arredores de seu ateliê, no bairro de São Francisco Xavier, subúrbio do Rio de Janeiro, a artista extrai o vocabulário de formas, de cores e de imagens que vão compor suas pinturas. Laguna passou a dedicar-se à pintura depois de se aposentar como professora de literatura portuguesa e latina, e frequentar os cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1990. A artista buscou na janela de sua casa-ateliê – com vista para o morro da Mangueira – a paisagem, os modos de construção e a arquitetura do subúrbio para definir sua maneira de pintar.
Esta exposição reúne 21 obras da produção recente da artista (2012 a 2018) e dos três principais temas trabalhados por ela: Jardins, Paisagens e Estúdios. Parte desta mostra é composta pelas Paisagens que Laguna realizou tendo como tema bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro. Com essas obras, a artista propõe outro imaginário do subúrbio carioca, incorporando sua experiência e memória. Nesta série, Laguna expande sua “vizinhança” para o espaço do museu: em uma tela realizada especialmente para esta mostra — Paisagem nº114 (MASP) (2018) —, a artista absorve os objetos de seu ateliê, as plantas do jardim de sua residência, elementos arquitetônicos do edifício do MASP e das obras da coleção do museu.
Ao visitar o ateliê de Laguna percebe-se uma extensa lista de artistas fixada em uma das paredes, na qual constam nomes canônicos da história da arte ocidental, como Paolo Uccello, William Turner, Paul Cézanne, Henri Matisse, Pablo Picasso, mas também artistas contemporâneas como Beatriz Milhazes e Paula Rego. Ao definir esses artistas como sua “família artística” e viver diariamente com essas referências em seu ateliê, Laguna os traz para o convívio com o morro da Mangueira, com o barulho do trem, com os muros de contenção dispostos nos “pés” da favela, com a trepadeira que cresce no jardim e invade o estúdio, com os passarinhos que entram pela janela – enfim, com toda essa simultaneidade de camadas que compõem o subúrbio e a natureza do quadro de Lucia Laguna.
CURADORIA Isabella Rjeille, assistente curatorial, MASP.