MASP

OBSESSÕES DA FORMA - ESCULTURAS DA COLEÇÃO MASP

10.6.2012 - 31.10.2012

Apresentada pela primeira vez no museu em 2011, a mostra traz como destaque Greta Garbo de Ernesto De Fiori; a Vênus de Pierre Renoir; a Bailarina de 14 anos de Edgar Degas; Os pássaros de Wesley Duke Lee; o Par de guerreiros chineses da Dinastia Tang e o Bicho alado de Emanuel Araújo. 

Obsessões da forma - Esculturas da Coleção MASP
Por Teixeira Coelho, curador do MASP.

A forma é proporcional à obsessão, anotou Alberto Giacometti, um dos grandes da escultura moderna. Qual é a obsessão da forma escultura?

Para Hegel, a escultura era o mais significativo formato da arte – porque melhor  podia representar a forma humana, a única a revelar o espiritual que existe sob o sensual. É preciso lembrar que para Hegel a arte faz proporciona a experiência da liberdade do espírito, a experiência estética da liberdade do espírito. E a escultura grega clássica era a forma de arte, para ele, que melhor oferecia essa experiência com sua representação realista (na verdade idealista) da forma humana.

Mas a escultura não se deteve nessa obsessão. Hegel dizia que a escultura deveria preocupar-se só com a forma, não com o sentimento, que era próprio do drama. Talvez por isso gostasse menos de Michelangelo, que é sentimento puro. E foi exatamente a obsessão com o sentimento que se infiltrou cada vez mais na escultura, como mostra Rodin. Essa era a nova obsessão no século XIX.

Na modernidade outra obsessão entrou em cena: a obsessão com a matéria, de que é exemplo algum Degas ou, em outra chave, as peças de Stockinger e Caciporé. Para Hegel, a escultura de forma humana fornecia a beleza pura. Depois dele, escultores foram buscar a beleza ainda mais pura em formas isentas da aparência humana ou que a lembravam apenas de longe, como nas formas orgânicas de Brunelo e Mário Cravo Jr. Nessa mesma direção, ainda em outro registro, mais abstrato, foram Emanoel Araújo ou Sérvulo Esmeraldo. E mínimo, como em León Ferrari: quanto menos forma e matéria, mais liberdade do espírito.

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As obsessões são várias e sobrepõem-se num mesmo período de tempo. Algumas se concentram na forma do animal, que Hegel não achava capaz de fornecer a experiência estética por lhe faltar, exatamente, o espírito. E depois a obsessão, como em Calder, foi o movimento. E em seguida, a luz, como em Le Parc.

Aquela pergunta inicial, “Qual é a obsessão da escultura?”, não pode mais ser feita hoje, quando se fala mais no tridimensional. E isso porque a  obra não só não mais representa a mesma coisa de antes como nem utiliza mais o mesmo gesto, aquele de esculpir, o gesto de pôr, de acrescentar matéria à matéria, ou o gesto de tirar, de extrair a forma da matéria e  que Michelangelo considerava o modo sublime da escultura. O artista hoje não  encosta ou quase nem encosta a mão na matéria da obra, como no caso de Alex Flemming. E a peça de Le Parc não é nem escultura, nem tridimensional: é um objeto, como a de César.

Esta mostra sobre a obsessão da forma na escultura assume o modo de um confronto.  Henry Moore, também escultor, repetiu aquilo que a teoria do conhecimento já dizia: “Para conhecer uma coisa, é preciso conhecer seu oposto”. Com esse objetivo esta mostra propõe grupos temáticos que reúnem conflitantes obsessões (ou, mais tradicionalmente, diferentes estilos) capazes de permitir observar melhor como cada artista resolveu seu problema. Os temas (Giacometti os considerava vitais, quer o artista soubesse disso ou não) são os que surgem na coleção MASP: guerreiros, nus, bustos, casais, a dança, os animais, os abstratos. Dispostos de modo a sugerir ao observador uma experiência concreta do espaço, estes grupos condensam parte considerável da história da obsessão humana com a forma no espaço.