MASP

SALA DE VÍDEO: REGINA VATER

2.7—15.8.2021
Regina Vater (Rio de Janeiro, 1943) é uma das pioneiras do vídeo no Brasil. Depois de estudar pintura nos anos 1960 no Rio, foi convidada em 1974, quando vivia em Paris, para filmar uma peça de teatro. Desde então, os meios audiovisuais marcam grande parte de sua obra, sejam em instalações, registros de happenings ou performances. Nesta mostra, apresentamos três trabalhos da artista que datam dos anos 1970.

Conselhos de uma lagarta (1976) é uma instalação em dois canais. O primeiro compõe-se sobretudo de imagens do rosto de Vater registrado durante meses no mesmo local em sua casa, entre atividades cotidianas. “Toda hora que eu me lembrava da câmera eu corria para frente dela e me filmava, minha premissa era de tentar que ela me surpreendesse”, comentou. O áudio sobrepõe um compasso sonoro bem marcado com falas retiradas do livro Alice no país das maravilhas.

Nas passagens do clássico de Lewis Carroll (1832-1898), Alice e a Lagarta conversam sobre a dificuldade de expressar em palavras o medo da passagem do tempo e das transformações do corpo. Na segunda tela, do lado oposto, vemos uma sequência silenciosa de closes de olhares de várias pessoas, como a artista Lygia Clark (1920-1988) e o poeta Wally Salomão (1943-2003). A obra foi concebida a partir da frase de Clark “Teu olho é meu espelho”, isto é, nas palavras de Vater: “Eu sou o que você me permite ser, pelo jeito com que você me vê”. A artista cria, assim, uma reflexão, por meio de retratos e autorretratos, sobre o modo pelo qual nossa imagem é construída num jogo complexo de percepção e espelhamento através do outro — seja o outro personagem do vídeo, seja o espectador do vídeo como outro. Não por acaso, são duas projeções olhando-se na instalação, algo que se conecta também a este momento particular em que nos comunicamos (e nos vemos) regularmente no computador ou no celular por meio de chamadas em vídeo.

Em duas telas do lado de fora da Sala são exibidos outros dois trabalhos: Vídeo ART e ARTropophagy [ARTropofagia] (ambos de 1978). Nesses vídeos, a artista aparece escrevendo “ART” na areia da praia ou ingerindo e expelindo a mesma palavra em uma bexiga. Desse modo, Regina Vater reafirma o caráter experimental e efêmero da materialidade artística, uma preocupação típica da chamada arte conceitual nos anos 1970. Expressa também o desejo incessante de buscar um certo “reencantamento do mundo” através de suas obras, apontando para o potencial especulativo, mágico, não racional e performativo da arte sobre a realidade da vida.

CURADORIA Guilherme Giufrida, curador-assistente, MASP

Ao longo de 2021 e de 2022, a programação da Sala de vídeo integra o ciclo das Histórias brasileiras no MASP, e este ano inclui trabalhos de Ana Pi, Teto Preto, Regina Vater, Zahy Guajajara e Dominique Gonzalez-Foerster.