As telas que compõem a Série Bíblica, produzidos entre 1942 e 1944, revelam forte influência do Guernica de Picasso. Esta mostra reúne a série completa, composta de oito obras, ao lado das quais estão as três obras da Série Retirantes que o museu possui. As séries serão mostradas em sala especialmente desenhada para esta exposição, que permite extrair todo o potencial formal e humano das obras. O conjunto abrange o período em que a denúncia social marcou a pintura de Cândido Portinari, que reflete a precariedade da situação social brasileira a reboque das calamidades da guerra, que sensibilizaram tantos pintores europeus. Na passagem da série Bíblica para a Série Retirantes, é possível perceber o momento em que Portinari se liberta da influência de Picasso. Complementar a mostra, o Museu apresenta ainda um apanhado de publicaçães de 1940 a 1970, contando um recorte da história de Cândido Portinari por meio de desenhos feitos por ele, catálogos de suas exposiçães, fotografias e cartazes. A vitrine da biblioteca exibe também uma carta original do pintor ao fundador do MASP, Pietro Maria Bardi, datada de 1948, falando sobre os preparativos de sua primeira exposição no Museu, quando ainda estava instalado em sua primeira sede. Depois da mostra de Portinari o MASP segue com uma extensa e rica programação, que inclui Vik Muniz, Manuel Villarino, Yang Shaobin, Vera Chaves Barcelos e Rodin, além da exposição Arte na França 1860-1960: O Realismo e de nova edição da série Pirelli de fotografias. Apresentação pelo curador, Teixeira Coelho s obras aqui expostas põem em evidência os motivos pelos quais Portinari foi considerado um dos pintores brasileiros por excelência da primeira metade do século XX. A série Bíblica foi executada entre 1942 e 1944 para a sede da Rádio Tupi de São Paulo a pedido de Assis Chateaubriand. São oito telas de grandes dimensões que ilustram passagens do Velho e do Novo Testamento. A marca de Guernica feita por Picasso em 1937 em reação à destruição daquela cidade basca pela aviação alemã com a cumplicidade da própria ditadura espanhola da época, encabeçada por Franco é evidente e nunca foi negada por Portinari. Ele de fato quis pintar como Picasso naquela tela, por ele vista em Nova York por ocasião de sua estada em Washington com a finalidade de fazer os painéis para a Biblioteca do Congresso. Guernica, hoje no Reina Sofia de Madrid, causou forte impacto sobre Portinari que, nesta série, não se limita no entanto a copiar o mestre: Portinari interiorizou o estilo do colega espanhol e gerou obras com caráter e força próprios. A série seguinte, Retirantes, se fez entre 1944 e 1945. Das cinco iniciais, o MASP tem estas três que deixam de lado o estilo da série anterior em busca de uma outra linguagem, mais próxima da adotada pelos muralistas expressionistas mexicanos Orozco e Siqueiros. Mas a chave, aqui, é própria de Portinari. Mostradas em conjunto, estas onze peças são um exemplo singular da arte pública engajada que, a época, se identificava com a vanguarda política e estética.