MASP

VIRTUDE E APARÊNCIA - A CAMINHO DO MODERNO

18.7.2008 - 1.5.2009

Virtude e Aparência - a Caminho do Moderno 
- Curador-Coordenador do MASP, Prof. Teixeira Coelho

Nesta exposição, estão presentes duas linhas de força da história da arte ocidental. A primeira se traduz na idéia de que, ao olhar-se para uma obra, era preciso ver além do que estava nela representado. Como John Ruskin insistia no século XIX, entregar-se à imitação, insistir no valor da arte por sua capacidade de reproduzir as coisas tais quais era pouco e vulgar; os prazeres desse olhar primário estavam entre os mais desprezíveis.

Na arte de tema religioso, essa linha está presente: a beleza de uma madona não reside tanto (ou nada) no que se vê na tela, mas num outro plano, além ou superior, acessível apenas ao intelecto. A virtude da obra estava em grande parte fora dela, talvez acima dela. Há virtudes visíveis, sem dúvida, como a perícia do artista. Mas a principal delas ficava além do visível. São exemplos dessa linha obras do século XIII como a Madonna, do Maestro Del Bigallo, além das de Rafael, Bellini e Botticelli.

Ao lado dessa arte, porém, para atender a outras necessidades da aristocracia e da burguesia nascente num mundo em transformação, surge no século XVI uma outra voltada para as aparências em todos visíveis. Entre essas, a nascente arte da paisagem e do retrato. Virtudes imateriais ainda existem, mas as aparências da tela começam a predominar - são, mesmo, essenciais. Tudo está à superfície das coisas e o prazer consiste em vê-las, a exemplo do que se vê nas telas de Metsys, Boucher e Fragonard representando cenas do dia a dia ou aquelas cuja beleza maior está no equilíbrio entre as cores da pele e dos tecidos das personagens.

Este jogo entre o visível e o invisível, entre conteúdo conceitual e uma superfície que logo se entrega ao olhar está na base da arte ocidental. Apresentam-se, nesta mostra, obras do momento em que essa separação e esse conflito instalam-se na arte ocidental e dos instantes logo posteriores, quando as aparências se afirmam e se caminha para o moderno.



Desde outubro de 2007, como parte das festividades de seu 60º aniversário, o MASP apresenta seu acervo em nova estrutura física e conceitual. Abandonou sua antiga divisão por períodos e regiões geopolíticas para adotar a divisão por temas. Desta forma, o visitante pode apreciar obras de períodos distintos, lado a lado. Em outubro será inaugurada a quarta e última exposição temática do acervo, "Olhar e Ser Visto - Retratos, auto-retratos", completando exatamente um ano de comemorações.