Histórias da diversidade é o terceiro de uma série de seminários que antecipa o programa do MASP dedicado ao tema durante todo o ano de 2024. O primeiro, realizado em 2021, contou com as presenças de C. Ondine Chavoya, Carlos Motta, E. Patrick Johnson, Érica Sarmet, Jeffrey Gibson, Grupo Mexa e Luiza Brunah, Lux Ferreira Lima, Mel Y. Chen, Nancy Garín Guzmán, Nicolas Cuello, Olivia K. Young, Tavia Nyong’o, Virginia de Medeiros e Vi Grunwald. O segundo aconteceu em 2022 e teve como participantes abigail Campos Leal, Bruno Oliveira, Cynthia Shuffer, Danieli Balbi, Erica Malunguinho, Fernando Davis, Jamal Batts, Karol Radziszewski, Mahmoud Khaled, Monica Benicio e Remom Bortolozzi. O programa vem incrementar a missão do MASP, um museu diverso, inclusivo e plural, no estabelecimento de diálogos críticos e criativos entre o passado e o presente por meio das artes visuais. Em português, diversidade é um termo intrinsecamente associado com identidades queer e diversidades de gênero, e a noção de histórias – diferente da História – é mais aberta, multívoca, inacabada e não totalizante, abrangendo não apenas relatos históricos, como também histórias pessoais, contos e narrativas ficcionais. Com dois dias de duração, o seminário trata de temas como ativismo queer/trans, uma esfera pública reimaginada e movimentos sociais LGBTQIA+, tudo isso em conexão com a cultura visual e as práticas artísticas.
ORGANIZAÇÃO
Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; André Mesquita, curador, MASP; David Ribeiro, assistente curatorial, MASP e Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP.
TRANSMISSÃO AO VIVO
O seminário terá transmissão online e gratuita por meio do perfil do MASP no YouTube, com tradução simultânea em Libras, inglês e português.
CERTIFICADOS
Para receber o certificado de participação, é necessário realizar um cadastro por meio de um link que será fornecido durante o seminário. Os certificados só serão enviados para o e-mail cadastrado dos participantes que assistirem aos dois dias de seminário.
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4.10.2023
11H
INTRODUÇÃO
Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP
11H10 – 13H
LA CHOLA POBLETE
Virgens cholas
A apresentação abordará as tranças, as batatas, os narizes e as manchas que transbordam e caem sobre criaturas com pênis e sapatos de salto alto. Tudo faz parte de uma mesma paisagem caótica e necessária, um grande campo de batalha em que dançar pode ser sinônimo de luta e prazer. Também abordará o processo das obras de pão, o aspecto performativo relacionado às aquarelas (materialidade). Tudo isso será combinado com uma reflexão sobre o fato de a Argentina não ser branca e estar estruturada sobre o racismo contra os mestiços e os indígenas.
ARAVANI ART PROJECT
Ontem, hoje, todos os dias
Yesterday [Ontem] explora a importância da mitologia nos tempos modernos, com uma série de histórias em quadrinhos/romances gráficos. A apresentação consistirá em uma antologia que irá explorar histórias do passado narradas por pessoas transgênero que vivem na Índia. A partir desta exploração, o projeto espera registrar nuances culturais, como fatos históricos, práticas tradicionais e histórias orais transmitidas de geração a geração dentro da comunidade Transgênero. Procura-se também lançar um pouco de luz sobre a dicotomia da violência baseada em gênero, em um cenário no qual alguns adoram uma pessoa Trans como se fosse uma Deusa. Today [Hoje] explora a relevância da revolução, ao reunir histórias inéditas de sobrevivência, amor, lutas, traições e, o mais importante, superar todos os desafios que a sociedade impõe ao ser e se tornar trans, buscando transformá-las em episódios de um podcast sobre vidas trans na Índia moderna. Everyday [Todos os dias] explora a vida cotidiana e as respostas de pessoas da comunidade Transgênero à misoginia e à discriminação no dia a dia.
FELIPE RIVAS SAN MARTÍN
Inteligência artificial para um arquivo queer inexistente
A apresentação aborda o projeto artístico Un archivo queer inexistente [Um arquivo queer inexistente] (2023), formado por fotografias fictícias de casais homossexuais e pessoas queer ou não binárias na América Latina do início do século 20, criadas por meio da inteligência artificial. Como afirmava o crítico queer José Esteban Muñoz, uma das consequências da cultura heteronormativa é que a experiência queer do passado não deixou registro ou não pôde ser arquivada. Essa negação do registro é ainda mais dramática para as pessoas do Sul Global e das classes trabalhadoras. Assim, a proposta artística para criar este arquivo negado se configura como um exercício “retrofuturista”, que utiliza algoritmos computacionais para reimaginar o nosso passado queer local e reivindicar um arquivo que jamais poderia existir. O resultado é um conjunto de imagens que são estranhamente comoventes e afetuosas, à primeira vista plausíveis, mas que, após um olhar mais detido, revelam as imperfeições – profundamente queer – de uma tecnologia que ainda está em desenvolvimento.
Mediação: David Ribeiro, assistente curatorial, MASP
14H30 –16H30
UWE BRESAN
A arquitetura sai do armário
Há muito tempo, interpretar as obras de artistas com base em suas biografias íntimas é uma prática comum na história da arte, da música, do cinema e da literatura. Não é preciso dizer que a identidade sexual dos artistas também pode ser considerada. Na verdade, às vezes ela deve até mesmo ser aplicada na interpretação: o que entenderíamos sobre a arte de David Hockney, a música de Piotr Tchaikovsky, os filmes de Luchino Visconti ou os escritos de Thomas Mann, por exemplo, sem saber sobre sua homossexualidade? O que há muito tempo é um padrão indiscutível em outros campos ainda é um tabu nos estudos de arquitetura. Mesmo em análises recentes sobre arquitetos do passado, muitas vezes sua homossexualidade é completamente ignorada, assumindo-se assim, de forma consciente, o risco de se realizar interpretações equivocadas. Está mais do que na hora de a arquitetura sair do armário!
JOSHUA CHAMBERS-LETSON
Uma dança com a morte é uma dança com a vida: What is Your Name?, de Adam Pendleton
Um estudo sobre o filme de Adam Pendleton, produzido em 2020, sobre o coreógrafo e dançarino Kyle Abrahams, What Is Your Name: Kyle Abraham's, A Portrait [Qual é o seu nome: um retrato de Kyle Abrahams], esta apresentação é uma reflexão sobre a dança com a morte que dá vida e complexifica o ser queer e negro, bem como sobre a dinâmica do amor queer e da perda que moldam a arte de conviver com o luto.
ZETHU MATEBENI
Nongayindoda: sobre o cruzamento entre artes, ativismo e queerness
Esta apresentação explora o conceito de Nongayindoda, que oferece uma abordagem que vai além do conceito ocidental de gênero. Com base nas obras do artista visual Athi-Patra Ruga e do poeta Mthunzikazi A. Mbungwana, utilizo uma estética queer que, ao mesmo tempo, nega e afirma as possibilidades de se estar dentro e fora da existência. Neste retorno a Nongayindoda, ofereço uma abordagem alternativa para que os africanos queer sejam capazes de imaginar seu ativismo, em um continente que a cada dia se torna mais anti-queer.
Mediação: Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP
5.10.2023
14H – 16H
ELLEN PAU
A história e os desafios dos direitos LGBTQ+ em Hong Kong
A comunidade LGBTQ+ de Hong Kong tem uma longa história de ativismo, desde o início associada aos direitos humanos e aos movimentos feministas e civis. Embora a Declaração de Direitos de Hong Kong proteja os cidadãos contra a discriminação por orientação sexual por parte do governo e do poder público, o governo não apoia os direitos dos gays nem as iniciativas antidiscriminatórias. A lei de segurança nacional de 2020 ocasionou o fechamento de organizações das áreas de direitos humanos e democracia, o que representa um desafio para a comunidade. Hong Kong está seguindo os passos da China, país no qual os direitos dos gays não são reconhecidos. Apesar disso, a comunidade LGBTQ+ de Hong Kong realizou avanços, com a primeira exposição LGBTQ+ Myth Makers – Spectrosynthesis III Hong Kong (2022) e os Gay Games (2023). Esta apresentação oferecerá uma visão geral da história do ativismo pelos direitos LGBTQ+ em Hong Kong e dos desafios atuais que a comunidade enfrenta.
STELLA NYANZI
Escavar histórias queer africanas a partir de um local em Uganda
Considerando a recente criminalização da produção e da distribuição de conhecimento sobre a homossexualidade em Uganda, quais são as possibilidades da geração, da curadoria e do compartilhamento de um corpus de conhecimento queer a partir desse contexto nacional? Como é possível localizar, situar, escavar, extrair e explicar histórias queer de contextos nos quais o simples ato de produção de conhecimento queer é criminalizado e duramente punido? Com base na distinção conceitual realizada por Zanele Muholi (2015) entre “arte visual” e “ativismo visual”, proponho a ideia de que continuar a produzir formas criativas, críticas, acadêmicas e jornalísticas de conhecimento queer a partir de contextos criminalizantes (incluindo Uganda) é uma questão de resistência urgente contra ataques homofóbicos que ameaçam acabar com a liberdade acadêmica, de expressão e artística. Ao colocar em prática esse programa político de dissidência queer, realizo uma amostragem, uma apresentação e uma análise dos acervos fotográficos de cinco fotógrafos (David Robinson, Frederic Noy, Keiji Fujimoto, Sumy Sadurni e Delovie Kwagala) que representam diversos indivíduos e comunidades LGBTIQA+ de Uganda.
TONY BOITA
Qual o lugar das memórias LGBTQIA+ na sociedade brasileira?
Ao longo da história, as pessoas LGBTQIA+ tiveram suas memórias invisibilizadas, garantindo a esses indivíduos o direito de não ter direitos. Refletiremos sobre os processos de invisibilização e de apagamento dos indivíduos não normativos nos museus e nos espaços de memória, e como isso estimula o preconceito e a violência. Queremos também apresentar algumas estratégias comunitárias que vêm sendo desenvolvidas pela comunidade LGBTQIA+ brasileira. Por fim, esta apresentação irá problematizar os limites e as potencialidades das memórias dissidentes no território brasileiro.
Mediação: André Mesquita, curador, MASP
ARAVANI ART PROJECT
O projeto, com suas modalidades de colaboração e criação conjunta com as pessoas da comunidade transgênero, assegura a exploração da sabedoria que elas manifestaram ao longo dos anos. Ao mergulhar profundamente em sua cultura e em suas práticas tradicionais, o projeto examina seus espaços de inovação e os lugares de sua história, bem como cria novos espaços ao transformar esse conhecimento em arte. Ao colocar as nuances das vidas, das narrativas e das experiências vividas pelos transgêneros na linha de frente de sua luta, o projeto tem como objetivo abraçar as pessoas da comunidade transgênero, promovendo consciência e participação social por meio das artes.
ELLEN PAU
Artista de Hong Kong, que iniciou sua carreira trabalhando nos bastidores, realizando mixagem de som e criando colagens de fotos. Mais tarde, ela começou a produzir arte com Super 8 e Vídeo 8 ao mesmo tempo em que trabalhava no campo de imagens médicas. Em 1986, Ellen foi cofundadora do Videotage, um coletivo de artistas independentes e, em 1996, do Microwave New Media Art Festival. Seu trabalho explora temas de gênero e identidade. Em 1992, ela recebeu um prêmio ACC e, em 2001, representou Hong Kong na Bienal de Veneza. Um de seus importantes trabalhos LGBTQ, Song of the Goddess [Canção da deusa], explora a vida de cantores de ópera cantonesa clássica. Foi membro do júri do Hong Kong Lesbian & Gay Film Festival.
FELIPE RIVAS SAN MARTÍN
Artista visual, ensaísta e ativista dissidente sexual chileno. Doutor em Arte pela Universitat Politècnica de Valência. Seu trabalho surge do cruzamento entre a crítica queer, os arquivos e as tecnologias do Sul Global. Suas obras fazem parte de acervos públicos e privados, como os do Museo Reina Sofía (Espanha), do 21c Museum (EUA), da Fundación AMA (Chile) e do MAC de Chile, entre outros. É cofundador do Colectivo Universitario de Disidencia Sexual, CUDS (2002-2019) e autor do livro Internet, mon amour: infecciones queer/cuir entre lo digital y lo material (Écfrasis Ediciones, 2019).
JOSHUA CHAMBERS-LETSON
Professor de Estudos Performáticos e Estudos Asiático-Americanos na Northwestern University e autor de dois livros premiados: After the Party: A Manifesto for Queer of Color Life e A Race So Different: Law and Performance in Asian America; coeditor, com Tavia Nyong’o, de The Sense of Brown, de José Esteban Muñoz; e, com Christine Mok, de China Trilogy: Three Parables of Global Capital, de Frances Ya-Chu Cowhig; e coeditor, com Tavia Nyong’o e Ann Pellegrini, da série Sexual Cultures, da NYU Press. Atualmente, escreve uma monografia sobre a arte do amor queer e da perda e é o 2022-2023 Thinker in Residence da Fundação Felix Gonzalez-Torres.
LA CHOLA POBLETE
Artista multidisciplinar que realiza e cria performances, foto-performances, videoarte, fotografias, pinturas, desenhos e objetos. Tem bacharelado e licenciatura em Artes Visuais pela Universidad Nacional de Cuyo e se formou em âmbito não institucional com artistas de seu interesse. Fez parte do Programa de Artistas da Universidad Torcuato Di Tella (2018), do programa Arte Foco do Museo Marco (2018), do Laboratorio de Acción do Complejo Teatral Buenos Aires (2019). Participou de exposições coletivas e individuais, incluindo La Marca Original, Esercizi del Pianto, SLAVE, Eros Risin e, mais recentemente, da mostra individual Pap Art na Kunsthalle Lissabon, em Portugal. Recebeu prêmios como o Banco Ciudad 2022 e foi eleita Artista do Ano 2023 pelo Deutsche Bank.
STELLA NYANZI
É bolsista do programa Writers-in-Exile do PEN Zentrum Deutschland e vinculada à NRF/SARChI Chair of African Feminist Imagination no Centro de Estudos sobre Mulheres e Gênero da Nelson Mandela University. Obteve seu doutorado pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, seu mestrado em Antropologia Médica pela University College London, e seu bacharelado em Comunicação de Massa e Literatura pela Makerere University. Em seu trabalho de pesquisa, especializou-se em Estudos Africanos Queer, Feminismo Africano, Estudos da Dissidência e direitos de saúde sexual e reprodutiva. Também é poeta, ativista e política do partido de oposição de Uganda, o Forum for Democratic Change.
TONY BOITA
É museólogo e psicanalista. É doutor em Comunicação (2022), mestre em Antropologia (2017) e bacharel em Museologia (2015). É também especialista em Gestão Cultural (2019) e Psicanálise (2023). Desde 2011, desenvolve e participa de projetos de ensino, pesquisa e extensão relacionados a populações vulneráveis brasileiras. É editor da revista Memórias LGBTQIA+ e articulador da Rede LGBTQIA+ de Memória e Museologia Social.
UWE BRESAN
Estudou Arquitetura na Universidade Bauhaus em Weimar, Alemanha. Em seguida, foi assistente de pesquisa no Museu Alemão de Arquitetura (DAM) em Frankfurt, Alemanha. De 2008 a 2017, foi editor e, de 2017 a 2020, editor-chefe adjunto da revista alemã de arquitetura AIT. Em 2015, concluiu seu doutorado em História Arquitetônica e Preservação Histórica. Atualmente, leciona na Universidade de Ciências Aplicadas de Stuttgart, Alemanha, e na Academia de Belas Artes de Munique, Alemanha. Produz pesquisas e publicações sobre arquitetura dos séculos 19 e 20, bem como sobre temas de arquitetura queer.
ZETHU MATEBENI
É South Africa Research Chair em Sexualidades, Gêneros e Estudos Queer na University of Fort Hare. Contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento dos estudos queer africanos por meio de vários livros, ensaios, artigos e poemas publicados, assim como filmes e exposições.