Por Luciano Migliaccio
O quadro do Masp A Grande Árvore foi pintado em 1942 (Cogniat 1945, p. 35). Em decorrência da clandestinidade na qual Soutine passou os últimos anos de sua vida e devido ao estado de guerra que impedia a circulação e a difusão das informações, a obra permaneceu inacessível aos estudiosos até sua publicação por parte de Cogniat em 1945.
Essa obra pode ser considerada emblemática da produção de Soutine, pois está estreitamente relacionada à situação aterrorizante da Segunda Guerra Mundial, exprimindo a angústia do artista diante dos aspectos mais desumanos desse conflito. Já nas paisagens pintadas em Civry-sur-Serein e nas figuras de rapazes, percebe-se o peso da catástrofe que ameaça a todos. Quando ela se concretiza, o “retrato” da árvore sacudida pelo vento torna-se um símbolo obsessivo para o artista, acuado em razão de sua origem judia. Contra o céu hostil, a árvore cresce desmesuradamente, vítima inocente da fúria que se desencadeia. São imagens de impotência ferida, pintadas em 1939, como Dia de Vento em Auxerre (Washington, Phillips Collection), ou de sombrio desagregamento, como as obras da década de 1940 (O Grande Cipreste de Civry, Vaduz, Basiléia, Ar Collection Trustee; Antes da Tempestade, Collection Castaing, As Árvores à Beira da Estrada, Haifa, Ilin Collection), até chegar às dimensões anormais, de valor cósmico, como as assumidas pela Grande Árvore do Masp, na qual a árvore é sacudida por rajadas de vento que a inflam de intumescências espasmódicas.
— Luciano Migliaccio, 1998