MASP

Édouard Vuillard

A princesa Bibesco, Circa 1920

  • Autor:
    Édouard Vuillard
  • Dados biográficos:
    Cuiseaux, França, 1868-La Baule, França ,1940
  • Título:
    A princesa Bibesco
  • Data da obra:
    Circa 1920
  • Técnica:
    Óleo sobre cartão
  • Dimensões:
    112 x 81 cm
  • Aquisição:
    Compra, 1958
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00130
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Édouard Vuillard (1868-1940) executou vários trabalhos sob encomenda para os príncipes romenos Emmanoel e Antoine Bibesco, da alta aristocracia parisiense, ligados ao teatro de vanguarda, à literatura e à arte. A Princesa Bibesco retrata Marthe Lahovary, romena nascida em Bucareste em 1888 e educada em Paris, onde faleceu em 1973. Ela se tornaria mais tarde princesa Bibesco por seu casamento com Georges, tio dos príncipes, obtendo renome pela sua atividade literária e suas memórias. No quadro, ela é vista só num salão requintado, rodeada por ricos elementos decorativos. Como em outras obras dessa fase do artista, há um detalhamento do cenário, uma perspectiva meio ambígua, com um espelho ao fundo deixando entrever outro ambiente ou vista do salão. A princesa é o centro das atenções: sentada numa cadeira tipo marquesa, ligeiramente reclinada sobre o braço esquerdo e com as mãos entrelaçadas, ela fixa o observador entre altaneira e enigmática, num traje escuro e elegante, do qual sobressai o colar. A luz elétrica amarelada do abajur incide sobre seus cabelos, dando destaque à sua presença. A sala está revestida por tapetes e por trás da cômoda, à direita, pende uma tapeçaria. Vuillard usa o recurso da perspectiva através de uma linha transversal, que segue da mesinha no canto esquerdo até o abajur sobre a cômoda, passando pela princesa. A pintura é posterior a 1907-1908, época quem que o artista teria conhecido Marthe Lahovary, segundo carta da própria princesa à baronesa Elliot de Harwood, escrita em 1962, em que comenta o encontro ocorrido em casa de parentes.

— Equipe curatorial MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 23.03.2020




Por Luiz Armando Bagolin
A partir da década de 1890, Édouard Vuillard passou a produzir muitas pinturas e litografias tendo por tema cenas de interiores. Começou por sua própria casa, passando pelas residências de pessoas simples e humildes, trabalhadores, costureiras, vendedoras, além de pessoas de seu próprio círculo familiar e social, como sua mãe, avó e irmãs. A princesa Bibesco é uma das pinturas dessa fase. Vuillard achou nessas cenas o pretexto por excelência para o desenvolvimento de uma síntese, a seu modo, dos princípios estabelecidos pelo grupo dos Nabis (Profetas) fundado por Paul Sérusier, seu amigo Pierre Bonnard e Maurice Denis, e do qual também participou ativamente no final do século XIX. Denis, por exemplo, teorizara que a pintura não deveria ser mais do que “uma superfície lisa coberta de cores ordenadas”. Entretanto, mais do que isso, os nabis (e Vuillard, em especial) aprenderam com a pintura de Gauguin – referência fundamental para todos eles – que a fatura pictórica permitia modelar o assunto, seja qual for, acrescentando à experiência visual uma dimensão táctil e, a partir desta, a impressão sentimental do próprio artista acerca do tema representado. Há inúmeros outros trabalhos de Vuillard datados da mesma época que utilizam recursos pictóricos semelhantes aos usados neste quadro. Por exemplo, a pintura intitulada La femme au fauteuil (Misia et Thadée Natanson), de 1896 (coleção particular), À table, de 1893 (coleção MET/NY), que retrata a família do pintor, ou Madame Vuillard au couture, de 1920 (coleção National Museum of Western Art). Deve-se ainda mencionar O vestido estampado, de 1891, obra também pertencente ao acervo do MASP. Vuillard pintou este último com largas massas de cores e tonalidades que se repetem em todos os planos, tendo como o seu centro de atenção a inscrição da figura que traja o vestido do título. Em A princesa Bibesco, a fatura pictórica também se desenvolve com a mesma potência gestual em todo o campo visível. Os lilazes, azuis, verdes e carmesins misturam-se aos nácares e aos amarelos, estes principalmente emitidos pela luz de um abajour à direita. A cor opaca e esbranquiçada roça parte dos cabelos da personagem principal, a princesa, que de resto tem o mesmo tratamento dado à mobília, ao papel de parede, às cortinas e ao vaso de flores à esquerda. A cor espraia-se através de pinceladas pastosas, aplicadas aqui e acolá, captando a atmosfera do interior semi-iluminado por uma luz morna e acarinhada. Mas o principal assunto da pintura aqui passa a ser a sua própria matéria, uma lição ou preceito o qual algumas das primeiras vanguardas do século XX aprenderam a valorizar, consolidando-o em manifestos e obras em muitos outros lugares.

— Luiz Armando Bagolin, pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, 2021




Por Eugênia Gorini Esmeraldo
Vuillard executou vários trabalhos sob encomenda para os príncipes romenos Emmanoel e Antoine Bibesco, freqüentadores da alta aristocracia parisiense, ligados ao teatro de vanguarda, à literatura e à arte. A obra do Masp A Princesa Bibesco retrata Marthe Lahovary, romena, nascida em Bucareste em 1888, mas educada em Paris, onde faleceu em 1973. Ela se tornaria mais tarde princesa Bibesco por seu casamento com Georges, tio dos príncipes, obtendo renome pela sua atividade literária e suas memórias. No quadro, ela é vista num salão requintado, rodeada por elementos decorativos e peças de mobiliário. Nesta obra, e nas demais desse período, há um detalhamento do cenário, o uso correto da luz elétrica, destacado por André Chastel, e o recurso da perspectiva meio ambígua, com um espelho ao fundo, deixando entrever outro ambiente ou refletindo o do salão. A princesa, um pouco à direita, centraliza a atenção com sua atitude majestática. Sentada em uma cadeira tipo marquesa, ligeiramente reclinada sobre o braço esquerdo que se apóia no braço da cadeira e com as mãos entrelaçadas à frente, a princesa fixa o observador entre altaneira e enigmática, num traje escuro e elegante, do qual sobressai o colar. A luz amarelada do abajur incide sobre seus cabelos, dando mais destaque à sua presença. A sala está revestida por tapetes e por trás da cômoda, à direita, pende uma tapeçaria, também evidenciada pela luz do abajur. Vuillard usa o recurso da perspectiva através de uma linha transversal, que segue da mesinha no canto esquerdo até o abajur sobre a cômoda, passando pela princesa, de várias linhas verticais aplicadas no canto da sala, que desemboca num outro aposento, e de linhas horizontais, mais sutis, definindo o teto, o portal e o escuro da tapeçaria. Para quebrar essa rigidez, o artista introduziu algumas formas sinuosas, como a postura da princesa, a manta que a ladeia e se arrasta pelo chão e a almofada redonda na qual ela se recosta, além do vaso de flores na mesa mais ao fundo. A pintura é posterior a 1907-1908, época quem que o artista teria conhecido Marthe Lahovary, segundo carta da própria princesa à baronesa Elliot de Harwood, escrita em 1962 e em que comenta o encontro ocorrido em casa de parentes. Camesasca situa a obra por volta de 1920, quando a princesa já alcançara notoriedade, o que é plausível, inclusive devido a sua fisionomia que não é mais a de uma jovem.

— Eugênia Gorini Esmeraldo, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



Pesquise
no Acervo

Filtre sua busca