Em Amnésia, Flávio Cerqueira representa uma criança negra de braços erguidos, segurando um balde de tinta branca que despeja sobre sua cabeça; a tinta escorre sobre seu corpo, contudo, não se impregna nele. A obra faz referência ao branqueamento das populações negras no Brasil, uma história em que as imigrações europeias a partir do século 19 tinham também a perversa função de tornar menos negra a população. Um dos focos da obra é a lata de tinta que se apresenta quase vazia. Seria possível interpretá‑ la, portanto, como uma espécie de esgotamento de tal processo de branqueamento. A escultura em bronze — um dos mais nobres e robustos dos materiais, associado de fato à escultura tradicional e hoje pouco utilizado na arte contemporânea, sobretudo com conteúdos mais políticos — parece ter sido feita como um antídoto contra o esquecimento dessas histórias para as quais devemos estar sempre atentos, daí seu caráter simbólico e materialmente robusto.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP, 2020
Por Adriano Pedrosa e Tomás Toledo, 2020
O paulistano Flávio Cerqueira aborda em seus trabalhos a temática racial. Em Amnésia, Cerqueira representa uma criança negra de braços erguidos, segurando um balde de tinta branca que ela despeja sobre sua cabeça; a tinta escorre sobre seu corpo, contudo, não se impregna nele. A obra faz referência ao branqueamento das populações negras no Brasil, uma história em que as imigrações europeias a partir do século 19 tinham também a perversa função de tornar menos negra a população. Um dos focos da obra é a lata de tinta que se apresenta quase vazia. Seria possível interpretá‐la, portanto, como uma espécie de esgotamento de tal processo de embranquecimento. A escultura em bronze — um dos mais nobres e robustos dos materiais, associado de fato à escultura tradicional e hoje pouco utilizado na arte contemporânea, sobretudo com conteúdos mais políticos — parece ter sido feita como um antídoto contra o esquecimento dessas histórias para as quais devemos estar sempre atentos, daí seu caráter simbólico e materialmente indestrutível.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP, 2020