Anita Malfatti, uma das principais artistas do modernismo brasileiro, dedicou-se a motivos populares no final de sua vida. A partir dos anos 1940, transformou radicalmente sua arte. Declarou querer abandonar as fórmulas das vanguardas internacionais, e pintar de forma cada vez mais simples. A sua temática também muda: a pintura expressionista de cenas interiores e de retratos é substituída pela representação da vida rural brasileira por meio de uma pincelada esfumada em tons pastel. Nota-se nessa fase a influência da pintura de artistas autodidatas e da obra de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Malfatti pintou, nesse período, flores, paisagens e cenas populares — especialmente danças, jogos infantis, bailes caipiras, procissões, casamentos e outras festas religiosas das áreas rurais do país. Batizado na roça foi realizada na década de 1940, período em que a artista frequentava os arredores da cidade de São Paulo, especialmente os municípios de São Miguel Paulista e Embu. Nessa tela, há vários personagens cujos rostos foram pintados sem definição, e cuja pele apresenta tonalidade escura. Eles aparecem na comunhão familiar, em atividades de lazer e descanso cotidiano. Dialogando umas com as outras, diferentes gerações parecem confortáveis em meio à paisagem e aos animais. Malfatti delimita alguns núcleos de ação: personagens montam a cavalo, tocam violão, carregam bebês, seguram objetos na cabeça, conduzem uma charrete, brincam entre si e com um cachorro, descansam apoiados em uma árvore. A cena principal é o batizado na roça, que dá título à pintura. Veem-se uma igreja católica ao centro, envolta pela vegetação tropical, e casarios simples ao fundo. Em frente à igreja, um homem segura sua filha pequena, e a mulher, o bebê prestes a receber o batismo.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018