Em 1933, no Rio de Janeiro, surgira a Sociedade Felippe d’Oliveira, em homenagem ao poeta gaúcho, falecido em Paris aos 42 anos de idade. O autor de Vida Extincta (1911), que em 1932 Agrippino Grieco considerara “excellente”, publicara em 1926 Lanterna Verde, com o qual se sagrava um poeta significativo do modernismo de língua portuguesa. Em 1934, por encomenda desta sociedade, que objetivava reeditar a obra do poeta e promover seu projeto poético por meio de uma revista de poesia, intitulada Lanterna Verde, Portinari pinta o retrato póstumo de Felippe d’Oliveira, hoje no Masp. Como observa Miceli (1996, p. 106), em sua análise do retrato, foi este reproduzido como encarte no número inaugural desta revista, em maio de 1934. Segundo o mesmo autor: “Talvez se possa interpretar a paisagem no lado esquerdo da composição em função das circunstâncias em que ocorreu sua morte. Por conta de seu envolvimento político em favor da revolução paulista de 1932, Felippe d’Oliveira foi obrigado a se exilar na França, onde perdeu a vida num desastre de automóvel quando deixava a cidade de Auxerre. A paisagem na tela mostra uma estrada ladeada por ciprestes, havendo bem ao fundo, na linha do horizonte, a sugestão de um aglomerado urbano. Na tradição retratística em que Portinari se apoiou para realizar esta composição, há inúmeros exemplos de um equacionamento semelhante entre figura e fundo, podendo-se, quem sabe, aliar tal referência a modelos flamengos e florentinos, à intenção de sugerir um cenário evocativo do acidente automobilístico. O caminho com ciprestes tinha com freqüência o sentido de uma alegoria fúnebre, aqui recuperada pelo artista”.
— Autoria desconhecida, 1998
Como já o discernia desde 1932 Paulo Rossi Osir, o crítico mais sofisticado dos anos 30 no Brasil, é na retratística que Portinari sem dúvida dá o melhor de si. A obra-prima de 1932, que lhe assegura tal intuição, o Retrato de Maria (MNBA), põe de chofre o artista em um entroncamento próprio que viera se articulando nos anos do decênio anterior, quando a herança de Modigliani, morto em 1920, é reelaborada pelos grandes artistas italianos de Valori Plastici, enquanto a superação do expressionismo na Ale- manha permitia a inserção de muitos de seus pintores no que se chamou a Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit).
— Autoria desconhecida, 1998