Pedro Figari é um dos grandes representantes da modernidade uruguaia, e sua pintura expressa o desejo de representar uma América Latina autônoma, próxima de suas raízes históricas e étnicas. Nesse sentido, Figari
atuou como advogado e político, trabalhando com temas ligados aos direitos humanos, à educação e à arte. Foi diretor da Escuela de Artes y Artesanías em Montevidéu e ali defendeu a fusão entre indústria e arte com
uma identidade latino‑americana, visando fomentar “a mentalidade nacional com critérios próprios”. Afastado da instituição, migrou para Buenos Aires e, em seguida, para Paris, onde, aos 60 anos de idade, passou a se
dedicar exclusivamente à pintura, retratando seu país natal em cenas como as manifestações culturais afro‑uruguaias de um tempo passado, muitas vezes imaginadas e utópicas. A obra do MASP representa um
candombe, dança coletiva de origem africana que se desenvolveu no século 19 nas cidades do rio da Prata — Buenos Aires e Montevidéu. A pincelada rápida e expressiva de Figari traduz com eloquência o característico movimento
das danças e dos ritmos musicais do
candombe. A rica cultura afro‑uruguaia representa a memória dos africanos forçados a migrar e escravizados na região, e também se constitui como importante resistência cultural em oposição aos ideais racistas propostos pela
antiga sociedade colonial. Figari tinha consciência da invisibilização a que os negros de seu país foram submetidos, e se empenhou em criar imagens alegres e vivas de tais populações, quase nunca presentes nos
manuais de história.