Em 2018 o núcleo Ritos e ritmos reuniu representações de carnaval de diferentes tempos e territórios em Histórias afro-atlânticas, uma das mais icônicas mostras do MASP. Uma das primeiras representações é do viajante francês Jean-Baptiste Debret: a aquarela Carnaval mostra como a prática ocorria nas ruas: as faces dos negros pintadas de branco, o arremesso de limões. É notável a participação dos escravizados, os personagens descalços na imagem. A festa aparece também na obra de Emiliano Di Cavalcanti, um modernista preocupado com a construção de emblemas da identidade brasileira, popular e de rua. Carnaval é típica de sua fase mais tardia, com pinceladas e traços soltos, conferindo vivacidade à cena. Uma outra figura central nas histórias das relações entre pintura e ritmos musicais afro-atlânticos é Heitor dos Prazeres, um dos pioneiros do samba carioca. Na pintura Sem título, dançarinos e músicos, portando o tradicional chapéu branco, se engajam num samba de rua. Potente e contagiante, o carnaval se espalhou pelas costas do Atlântico Negro, ganhou múltiplas formas e compuseram formas de comunicação privilegiadas entre afrodescendentes que cruzaram as fronteiras criadas pela colonização europeia. No Haiti, Sénèque Obin em Carnaval pinta uma multidão de personagens fantasiados e com máscaras ocupando as ruas de um vilarejo. O artista afro-americano Ellis Wilson, que esteve no Haiti em 1952, elabora Carnival. Em Cuba, a obra Sua Figura de Carnaval de René Portocarrero mostra adereços múltiplos.
— Equipe curatorial MASP, 2021
Por Guilherme Giufrida
Sénèque Obin (1893–1977), nasceu em Limbé, no Haiti. Como artista, produziu pinturas de naturezas-mortas, cenas cotidianas e sobre eventos históricos de seu país, retratando especialmente as relações internacionais hatianas com os Estados Unidos. Juntamente com seu irmão mais velho Philomé (1892-1986), Obin é considerado um dos muitos mestres do chamado Renascimento haitiano, que renovou as artes no país durante a década de 1940. Autodidata, começou sua prática artística tardiamente, aos 53 anos de idade, influenciado especialmente pelo irmão. Em Carnaval, do acervo MASP, o artista retrata uma multidão de personagens fantasiados e com máscaras ocupando as ruas de um vilarejo. Destacam-se os coloridos e a variedade de fantasias e máscaras dos sujeitos, que se amontoam em um espaço urbano muito próximo à zona rural. Nota-se os casarios também coloridos e as montanhas da paisagem ao fundo. A obra integrou o núcleo Ritos e ritmos da exposição Histórias afro-atlânticas, em 2018 no MASP, que reuniu representações de carnaval de diferentes tempos e territórios. Com isso, revelou-se de que maneira tal festividade representa um espaço não só de festa e de alegria, como também de resistência e memória cultural de diferentes populações de matriz afro-diaspórica pelas américas, que se conectam por meio da música, da dança e do vestuário.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2022