Entre os anos 1940 e 1950, Candido Portinari recebeu uma série de encomendas do Estado brasileiro, realizando painéis sobre os ciclos econômicos nacionais para figurarem em repartições públicas. Nesse período, também elaborou obras com o tema dos produtos de exportação, como o milho e o café. Em Colheita de arroz (1957), o pintor representa corpos na iminência do gesto de cortar os fenos. Pintou os personagens com muita dignidade, assumindo uma concepção heroica do homem do campo, e realçando a permanência da agricultura familiar em pleno período de crescimento econômico e de industrialização das grandes cidades. Essa obra indica um deslocamento da crítica social presente em trabalhos anteriores, como Retirantes (1944) e Criança morta (1944), ambos do MASP, em que Portinari destacara as mazelas do desenvolvimento econômico e o drama do povo brasileiro pobre e marginalizado. O artista passou a privilegiar a vitalidade na comunhão das atividades pela classe trabalhadora rural, retratada a partir de cores vibrantes: amarelo, marrom claro e creme. Ademais, nota-se, em Colheita de arroz, a padronagem de diagonais na pintura dos fenos ao chão, o que dá ritmo e movimento à composição. A geometrização também está presente no corpo dos trabalhadores e no desenho das cercas e da mesa onde apoiam-se foicinhas para o corte da plantação; nesses casos, em linhas horizontais e verticais. Vê-se ao fundo o restante da plantação, que futuramente será colhida. Vale mencionar que, no mesmo ano, Portinari produziu Colheita de feijão; os dois painéis foram pintados para a sala de jantar da residência modernista do banqueiro Homero Souza e Silva (1913-2003), projetada por Carlos Leão (1906-1983) em 1956, no Rio de Janeiro.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018