Envolta em uma atmosfera íntima, de interior de ateliê, e protegida por luz suave, a modelo é representada aqui em meio a pinceladas pastosas, de movimentos rápidos e bem marcados, decisões que contribuem para lhe conferir presença e carnalidade. Sobre ela incide iluminação frontal, clara, que opera para ampliar o espaço e reforça seu descolamento do fundo, uma estrutura de base geométrica, construída pela coluna, à direita, e por dois grandes blocos de cor, em profundidade, um mais claro, na parte superior, sobre outro menor e mais escuro — elementos arquitetônicos que se relacionam com a verticalidade do corpo. De olhos fechados, a modelo parece estar em sutil movimento, virando-se delicadamente para a esquerda, o que valoriza os contornos de seu perfil, caso do ombro, braço, seio, quadris e nádegas, e mais uma vez prova o domínio da linha na obra de Tarsila, aqui “desenhando com a tinta”. A pele das costas rebate os tons de verde e marrom da coluna, na qual ela apoia o braço direito, e com que se confunde. A maneira de prender os cabelos remete mais à figura da moça interiorana de Autorretrato com vestido laranja, de 1921, que à mulher aristocrata e cosmopolita de Autorretrato (Manteau rouge), de 1923. Apontando já para uma figuração modernista, o trabalho revela ainda as precisas capacidades técnicas de Tarsila, fruto de seu aprendizado com Pedro Alexandrino e George Elpons, em São Paulo, mas também de períodos nas academias Julian e Émile Renard, em Paris, onde trabalhou intensamente com nus e modelos vivos.
— Autoria desconhecida