Inicialmente considerada uma obra de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), após avaliação de um comitê de especialistas no pintor e desenhista francês, Índios atravessando um riacho passou a ser atribuída a Agostino Brunias, deslocando a cena representada do Brasil no início do século 19 ao Caribe no século 18. O pintor de origem italiana residiu nas ilhas caribenhas, onde representou cenas de uma população miscigenada, entretida em atividades cotidianas no espaço público, como festas populares ou mercados. A composição da pintura do MASP parece seguir uma estrutura narrativa e temporal própria à pintura de história. O modo de estar no mundo dos povos originários, representado pela nudez e pela habitação similar a uma cabana, é isolado do resto da composição, à esquerda de uma árvore que atravessa toda a largura da pintura. À direita dessa árvore, se considerarmos o título atribuído à tela, um caçador de escravos de costas, ao apontar para a direita, parece dirigir o trabalho de uma série de índias, que carregam cestos nessa travessia de riacho. Do outro lado do rio, duas índias descansam e amamentam, enquanto um homem com um chapéu similar ao do personagem central, o suposto caçador de índios, repousa junto a um jovem índio. O desenrolar dessa ação parece sugerir a assimilação progressiva da nova cultura imposta e sua consequente mestiçagem. Essa concepção da colonização omite e apazigua a violência da aculturação e escravização de uma população autóctone.
— Equipe curatorial MASP, 2017