Depois de frequentar o curso de escultura decorativa em Bordéus, Lhote dedicou-se à pintura e mudou-se para Paris. Expôs no Salon des Indépendants em 1906 e no Salon d’Automne de 1907, aproximando‑se da poética de Cézanne (1839-1906). Em 1912 participou do grupo La Section d’Or [A Secção Áurea], assimilando, sobretudo, o rigor construtivo e geométrico do cubismo. Publicou numerosos escritos históricos e teóricos: Tratado sobre a paisagem (1938), Antes a pintura (1942), Tratado sobre a figura (1950). Reuniu escritos de artistas em Da paleta ao escritório (1946). Abriu sua própria escola, na rua d’Odessa, em Paris, onde se formaram os brasileiros Tarsila do Amaral (1886-1973), Francisco Brennand e Antonio Gomide (1895-1967). Sua influência no Brasil é perceptível também nas obras públicas de Di Cavalcanti (1897-1976) e Candido Portinari (1903-1962). Composição — Interior com figuras femininas (1936) evoca a temática das cenas de interior de harém tratada pelo orientalismo do século 19, nomeadamente por Delacroix (1798-1863) nas Mulheres de Argel (1834), à luz das banhistas de Cézanne e das experiências cubistas.
— Equipe curatorial MASP, 2017
Por Luciano Migliaccio
Provavelmente a inscrição no verso de Composição – Interior com Figuras Femininas refere-se a Beatrix Reynald, que se transferiu para o Rio de Janeiro durante a Segunda Guerra Mundial e que se desfez de sua coleção para ajudar a Resistência.
Exercício algo acadêmico, essa composição inspira-se na pintura orientalista do século XIX no que tange à apresentação das figuras e à decoração do boudoir. A figura à direita tem como modelo as Mulheres de Argel de Delacroix. A obra apresenta uma simplificação das formas, típica da pintura monumental. Aproximando-se da gráfica publicitária da década de 1930, ela não deixará de influenciar, por sua vez, a pintura decorativa e mural que se converte em programa cultural de inúmeros países no período pós-guerra, aí se incluindo o Brasil, com artistas como Di Cavalcanti e Portinari.
— Luciano Migliaccio, 1998