As pinturas de Heitor dos Prazeres (1898-1966) são indissociáveis de sua carreira como músico e compositor, e, com Pixinguinha e Donga, participou da fundação de importantes escolas de samba no Rio de Janeiro. O envolvimento com carnaval, dança e música atravessa a produção do artista. É o caso da dupla de Músicos que tocam um atabaque e um afoxé, com suas cabeças erguidas e bocas abertas como se entoando a mesma melodia, e sintonizando a pulsação de seus gestos que parecem encontrar reverberações na alternância das diagonais que ritmam o padrão do piso, evocado também pelo espelhamento de suas posturas e silhuetas em zigue-zague. Na representação desses corpos, Prazeres sugere um gingado próprio de uma musicalidade e corporeidade afro-brasileira. Para além de insuflar uma potência gerada pela sincronicidade musical e gestual, os detalhes como as alinhadas vestes rosa, azul e cinza em belo contraste com o fundo azul, bem como os pés calçados de meias brancas e sapatos pretos conferem dignidade a esses personagens.
— Olivia Ardui, curadora assistente, 2020