Candido Portinari é uma figura chave no modernismo brasileiro e seu Lavrador de café é uma de suas pinturas mais emblemáticas. Nela vemos um negro forte, de pés e mãos agigantados, representado descalço, vestindo calças brancas e camisa vermelha clara arregaçadas, segurando uma enxada. As muitas simbologias e leituras que revestem a representação são ambíguas: se por um lado o negro está ligado ao universo do trabalho manual, da força física, da terra e da agricultura (perversamente, em detrimento do trabalho intelectual), ele também surge como potência do trabalho, de transformação da terra. É dele a obra que vemos ao fundo no horizonte da pintura, a plantação de café, que em 1930 era o principal produto de exportação brasileiro — a despeito de ele não ser proprietário dela. Suas mãos e pés agigantados expressam a força de sua potência, em uma figura masculina digna, forte, viril, tornando‑se um emblema da identidade nacional, embora o seja através de uma arte moderna, de uma visão estereotipada do negro e das mãos de um pintor branco de origem italiana.
— Adriano Pedrosa, diretor artistico, MASP, Tomás Toledo, curador chefe, MASP, 2019
Entre 1936 e 1944, Portinari realiza uma série de grandes pinturas murais à maneira de afrescos para um salão do Palácio Gustavo Capanema, sobre a temática trabalho, enfocando a lida com o café, a borracha, o ferro, o fumo, o garimpo etc. A obra do Masp insere-se neste contexto e deve ser considerada, assim como diversos desenhos ou A Colona (de 1935), uma reflexão pontual do artista no âmbito de um dos ciclos maiores de sua carreira.
— Autoria desconhecida, 1998