Ao lado de artistas como Ferreira Gullar (1930-2016), Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980), Castro fez parte da fundação do movimento neoconcreto em 1959. Esses artistas se afastaram do concretismo, vertente da abstração vinculada a preceitos racionais e matemáticos, e optaram por uma maior liberdade de experimentar com formas geométricas, integrando dados como a percepção e a subjetividade do espectador. Castro atuou no movimento de poesia visual Ars Nova com seu parceiro, Hércules Barsotti (1914-2010). Nas décadas de 1950 e 1960, Castro criou a série Objetos ativos, que questionava os limites entre pintura e escultura. Recobrindo chapas de madeira com tecido, o artista posicionava cores complementares e formas geométricas de maneira a criar efeitos ópticos, uma sensação de profundidade e de movimento. Também prendia as chapas à parede pela lateral, de modo a projetá-las no espaço. O público teria que se mover em torno da pintura para visualizá-la de diferentes pontos de vista, que assumia portanto uma tridimensionalidade, tornando-se de fato um objeto. Objeto ativo é o primeiro trabalho dessa série.
— Equipe curatorial MASP, 2017
Por Regina Teixeira de Barros
Willys de Castro nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, em 1926, e viveu em São Paulo até 1988, ano de sua morte. Formado em química industrial, começou a pintar no final da década de 1940, atuando também como designer gráfico, poeta e barítono do grupo Ars Nova. Entre 1959 e 1962, criou uma série de objetos ativos, considerada uma contribuição ímpar para a abstração geométrica no Brasil. À primeira vista, a pintura do MASP parece monocromática. Mas, numa avaliação mais detida, observa-se uma estreita faixa azul na extremidade direita, interrompida no centro por um quadradinho amarelo; na extremidade oposta, apenas um quadradinho do mesmo azul paira a meio caminho entre o topo e a base da tela. O deslocamento dessa pequena forma geométrica — cuja cor contrasta com a do fundo — é suficiente para induzir um modo peculiar de perceber a pintura: o olhar varre a superfície da tela de um lado a outro, de modo a completar mental e intuitivamente a linha vertical. Esse jogo também se prolonga na lateral da pintura — que, aliás, é sempre apresentada sem moldura. Assim, a apreciação integral do Objeto ativo exige uma movimentação ao redor do trabalho, pondo em xeque o modo frontal, tradicional de se mirar uma tela. Surge então uma dúvida: mas afinal, trata-se de uma pintura ou de um objeto? Ainda que o título da obra sugira a resposta, a ambiguidade permanece latente.
— Regina Teixeira de Barros, doutora em Estética e História da Arte, USP, 2021