Lucas Cranach foi um importante representante do renascimento germânico. O nome Cranach vem da cidade onde ele nasceu, Kronach, hoje território alemão. Estudou tanto no ateliê de gravura de seu pai como em suas viagens. Em 1501, estabeleceu-se em Viena. Na corte do imperador Maximiliano I, adquiriu renome, introduzindo na arte alemã um novo tipo de retrato de casal formado por dois painéis unificados por uma paisagem simbólica no fundo. Em 1504, Cranach foi convidado em Wittenberg para ser o pintor oficial da corte do duque Federigo III da Saxônia, protetor do líder protestante Martinho Lutero (1483-1546). Cranach tornou-se íntimo amigo do reformador religioso e realizou vários retratos dele e de seus principais partidários. Ao tornar-se chefe de um grande ateliê, absorveu o modelo compositivo e intelectual da pintura italiana, renunciando à intensidade expressiva da sua primeira fase. O Retrato de jovem aristocrata — Um jovem noivo da família Rava (1539) apresenta a figura com o brasão da família sobre o anel e com uma coroa de cravos vermelhos, código de noivado na época. Poderia, portanto, tratar-se de um quadro executado na ocasião de um casamento, quando famílias de alta posição trocavam retratos entre si. A barba rala demonstra a juventude do belo personagem; sua mão esquerda apoiada sobre o punhal pode indicar uma vocação militar. O fundo verde permite que os tons de vermelho se destaquem na joia em forma de coração sobre o peito, na pena da coroa, no colarinho abotoado e frisado.
— Equipe curatorial MASP, 2017
Por Luciano Migliaccio
Segundo um depoimento dos antigos donos, o retratado seria um duque de Saxônia. Bardi (1963, p. 210) identificou o brasão sobre o anel como sendo o da família Rava, de Meissen. O jovem seria um noivo, por causa da coroa de cravos vermelhos que traz no cabelo, como era costume na Alemanha do século XVI. O momento do noivado era uma oportunidade para o intercâmbio de retratos entre os noivos de famílias de alta condição social.
O quadro Retrato de Jovem Aristocrata – Um Jovem Noivo da Família Rava foi aceito como obra de autoria de Lucas Cranach a partir do repertório de Friedländer e Rosenberg de 1932 (1932, n. 339) e nunca foi colocado em dúvida. Isto é bastante raro, pois no ateliê do pintor costumavam-se realizar réplicas dos retratos mais famosos pintados pelo mestre, como aqueles de Lutero e de sua mulher, Catharina von Bora. Nas obras de Cranach, é preciso distinguir entre retratos destinados a serem divulgados para um grande público, representando figuras ilustres da política e da cultura, como Lutero ou outro chefe da Reforma, Melanchthon, e retratos para clientes particulares. Entre estes últimos, a semelhança e a individualidade do retratado são representadas por meio de um agudo espírito de observação do físico e uma penetração psicológica que denotam uma consciência moral imbuída do humanismo erasmiano. É este o caso do Jovem Aristocrata do Masp, que pode ser colocado entre as melhores demonstrações de Cranach retratista: os enfeites do costume, a coroa e a pena vermelhas, o elegante e frívolo colarinho, a grande jóia, provavelmente de esmalte vermelho e ouro, em forma de coração, no meio do peito, a pose da mão colocada ostensivamente na empunhadura do punhal, à altura do sexo, ressaltam a vontade de afirmação e a falta de segurança do adolescente.
— Luciano Migliaccio, 1998