Gertrudes Altschul foi uma figura pioneira no contexto da fotografia modernista brasileira. De origem judaica, Altschul migrou para o Brasil em 1939 de sua cidade natal, Berlim, fugindo do regime nazista. No final da década de 1940, aproximou-se do famoso Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em São Paulo. O MASP possui 12 obras da artista em comodato, entre elas, a fotografia Ritmo. A imagem parece a representação de um detalhe de um edifício modernista de concreto armado, mas é na verdade uma estrutura de madeira. Cada um dos quatro elementos que se repetem na imagem foi registrado em um ângulo que os dispõem diagonalmente—do canto superior esquerdo ao canto inferior direito da composição. Se tudo parece indicar uma estética moderna, serializada, geometrizada e abstrata, as placas de madeira que revestem os elementos, com suas texturas, fissuras e pregos à vista, evocam um modo ou etapa de construção mais tradicional. Como sugere o título, Ritmo explora os aspectos rítmicos da composição, com o contraste acentuado entre as áreas iluminadas e sombreadas da fotografia—que foi propositalmente intensificado pela artista, se comparamos à imagem original— e com a cadência dos elementos em forma de L que comprimem a estrutura tubular de madeira, criando a imagem geometrizada que se aproxima da abstração. A obra revela a aproximação da artista à abstração geométrica em voga nos anos 1950, sobretudo em torno do movimento concretista paulistano.
— Tomás Toledo, curador-chefe, MASP, 2022