As paisagens de L’Estaque aparecem em diversas pinturas de Paul Cézanne (1839-1906). O artista cresceu em Aix-en-Provence, na França, e sua mãe tinha uma casa de veraneio em L’Estaque, cidade que Cézanne também usou como refúgio durante a guerra franco-prussiana para evitar o recrutamento militar e para manter-se próximo de sua namorada, Hortense Fiquet, um relacionamento reprovado por seu pai. Das temporadas em L’Estaque, vemos em obras o relevo local, casas nas encostas com a baía de Marseille ao fundo. A região do sul da França é marcada por seu patrimônio geológico, cheia de antigas pedreiras, formações rochosas paleolíticas, cavernas pré-históricas. Quando jovem, Cézanne fazia caminhadas com amigos nas pedreiras de Bibémus e Chateau Noir. Além do escritor Émile Zola, também fazia parte do grupo o geólogo Antoine-Fortuné Marion. Podemos encontrar esquemas geológicos desenhados por Marion nos cadernos de Cézanne do mesmo período de suas primeiras paisagens em L’Éstaque. São características de Cézanne as pinceladas curtas, na largura de um pincel, que se torna uma espécie de unidade de medida para organizar a pintura e aplanar volumes. Com manchas paralelas, o artista varia inclinações e combinação de cores, de modo que a natureza é representada com um olhar simultaneamente atmosférico e formal, uma imagem pulsante. Rochedos foram um motivo revisitado por Cézanne em vários momentos, desde os anos 1860 até o começo do século XX, quando o artista chega a experimentos ousados de composição, multifacetados, que já anunciavam a visualidade do cubismo. O MASP possui outras quatro pinturas do artista em seu acervo que podem ser vistas no site do museu.
— Laura Cosendey, assistente curatorial, MASP, 2020
Por Luciano Migliaccio
A mãe de Cézanne possuía uma casa na aldeia de L’Estaque, a dez quilômetros ao norte de Marselha e a trinta de Aix. Durante a guerra de 1870, Cézanne refugiou-se ali, voltando várias vezes até 1890. A data mais provável do quadro, 1882-1885, foi sugerida por Venturi. Para Camesasca (1989, p. 108), a pintura dataria de fevereiro de 1884, mês em que Cézanne esteve em L’Estaque, onde se encontrou com Monet e Renoir. O mesmo autor também relaciona a pintura a uma carta a Zola de 1883, na qual Cézanne escreve: “Aluguei uma pequena casa em L’Estaque, exatamente acima da estação de trens. Há umas rochas que começam justamente atrás da minha casa e pinheiros... Aqui há belíssimas vistas, porém isto não é suficiente para oferecer o motivo. Todavia, quando o sol pousa, subindo um pouco, há uma bela vista de Marselha e das ilhas no fundo, tudo envolvido na luz do crepúsculo, dando um belo efeito decorativo”. A experiência em L’Estaque parece decisiva para o desenvolvimento ulterior do estilo de Cézanne, caracterizado pelo uso construtivo da cor-luz e da cor-sombra, e da pincelada que produz a estrutura visual do quadro Rochedos em L’Estaque (Schaefer).
— Luciano Migliaccio, 1998