Paula Trope explora as relações entre diferentes grupos sociais, a maneira como são representados e as trocas simbólicas e políticas que se dão por meio da imagem. A série Os meninos (1993-2016) é particularmente significativa: a artista retrata crianças em situação de rua e em seguida entrega‑ lhes a câmera, pedindo que fotografem algo que tenha despertado o seu interesse. Vitor, Wando e Felipe, que aparecem no díptico da coleção do MASP, escolheram um quadro que estava à venda, com a imagem de um buquê de flores. A generosidade de Trope contrasta com a realidade da cidade do Rio de Janeiro na década de 1990, marcada por uma brutal segregação (que persiste, cronicamente, até os dias de hoje). No mesmo ano da obra, 1993, um trágico episódio ficou conhecido como a “chacina da Candelária” — na noite de 23 de julho, policiais disfarçados atiraram em dezenas de pessoas que dormiam nos arredores da igreja da Candelária, no Rio, em sua maioria, crianças. Trope utiliza uma câmera simples, feita somente de uma lata de metal com um orifício, tipo pinhole, o que exige um longo tempo de exposição, de até cinco minutos. O passar do tempo torna‑ se então parte do trabalho, convidando os retratados a um envolvimento mais duradouro com a construção de sua imagem. O grande formato da fotografia confere dignidade e grandiosidade aos meninos.
— Mariana Leme, assistente curatorial, MASP, 2017