"Eu procurei, no Museu de Arte de São Paulo, retomar certas posições. Procurei (e espero que aconteça) recriar um 'ambiente' no Trianon. E gostaria que lá fosse o povo, ver exposições ao ar livre e discutir, escutar música, ver fitas. Gostaria que crianças fossem brincar no sol da manhã e da tarde. — LINA BO BARDI, 1967
Playgrounds 2016 apresenta seis novos trabalhos de artistas que levam em conta o engajamento público no museu e em seu entorno. Céline Condorelli (França/Reino Unido), Ernesto Neto (Brasil), Grupo Contrafilé (Brasil), O Grupo Inteiro (Brasil), Rasheed Araeen (Paquistão/ Reino Unido) e Yto Barrada (Marrocos) são artistas cujas práticas envolvem o jogo, a participação, a esfera pública e a convivência coletiva, e por isso foram convidados a conceber propostas retomando o espírito de Playgrounds, uma exposição individual do artista Nelson Leirner realizada no MASP.
Na mostra de Leirner, de 1969, ano em que o MASP foi aberto ao público na Avenida Paulista, o artista ocupou o Vão Livre, esse espaço híbrido, de transição, fronteiriço, pois ao mesmo tempo que ele está sob o edifício do museu, é administrado pela Prefeitura da cidade. Playgrounds (1969) incluía uma série de obras participativas dispostas ao ar livre, ativando a rua e o espaço urbano e misturando os limites entre a arte e a vida, o museu e seu exterior.
No uso em português, playground é o espaço na cidade, na escola ou no edifício dedicado ao lazer, com brinquedos e equipamentos para isso. Play, em inglês, é o agir, o jogar, o brincar e o tocar (a música, o vídeo); ground é o terreno, a terra, o chão. Compreender o espaço da arte como um playground significa levar em conta todos esses significados, articulando-os e abrindo-os para outros. Nesse contexto, Playgrounds 2016 busca recuperar a dimensão do engajamento e da experiência da arte numa forma ampliada e emancipatória, permitindo a manifestação da vida coletiva na cidade e no museu. Esse aspecto está presente também na ideia de museu pela arquitetura de Lina Bo Bardi. Em um de seus desenhos para o museu, Esculturas praticáveis do Belvedere, Museu Arte Trianon (1968), a arquiteta retrata a área do Vão Livre como um playground para crianças. Com essa proposta, o museu se tornaria um organismo vivo, dinâmico, onde as crianças (assim como os adultos) pudessem acessá-lo e conhecer seu acervo com curiosidade e autonomia.
Playgrounds 2016 ocupa o Vão Livre, o 2o subsolo e o mezanino do 1o subsolo do MASP, unindo os programas de mediação e de exposições do museu e em diálogo com a exposição Histórias da infância, a partir de 7 de abril. Por meio da arte, do lúdico e do jogo, é possível imaginar novas maneiras de conviver e aprender. A educação se difunde em todo o museu, entendido também como um ambiente de troca e transformação de todos os envolvidos: artistas, obras, museu e seus públicos.
ARTE NA MODA: COLEÇÃO MASP RHODIA
Pela primeira vez, o MASP exibe seu acervo completo de vestuário da Rhodia, com roupas criadas a partir da colaboração entre artistas e estilistas na década de 1960. A coleção de 79 peças, selecionadas por Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor-fundador do museu, foi doada em 1972 pela Rhodia. A indústria química francesa promovia seus fios sintéticos no Brasil por meio de desfiles-show, editoriais e coleções de moda, numa estratégia desenvolvida por Lívio Rangan (1933-1984), visionário gerente de publicidade da empresa. Os desfiles-show, realizados entre 1960 e 1970, pareciam mais espetáculos e reuniam profissionais do teatro, da dança, música e das artes visuais. Apresentados na Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), o maior evento de moda da época, os desfiles-show exibiam até 150 peças, com duas coleções por ano viajando pelo Brasil e exterior.
O acervo do MASP é o único conjunto remanescente dessa produção e inclui peças de diferentes coleções. As roupas são peças únicas, feitas sob medida e apenas para promoção da marca. Rangan, atento à moda internacional nos anos 1960, um dos períodos mais revolucionários na história da moda, trazia informações que eram reprocessadas com referências brasileiras, numa articulação de trabalhos de artistas e estilistas. A escolha dos artistas por Rangan revelava o interesse em dialogar com a arte contemporânea do momento e refletia as principais tendências da arte e da moda. Os desfiles-show tinham uma extraordinária força midiática, graças também à participação de artistas consagrados e de músicos brasileiros, importantes alavancas na cadeia da moda nacional.
O conjunto do MASP inclui artistas que trabalhavam com a abstração geométrica, como Willys de Castro (1926-1988), Hércules Barsotti (1914-2010), Antonio Maluf (1926-2005), Waldemar Cordeiro (1925-1973) e Alfredo Volpi (1896-1988); com a abstração informal, como Manabu Mabe (1924-1997) e Antonio Bandeira (1922-1967); com referências populares brasileiras, como Carybé (1911-1997), Aldemir Martins (1922-2006), Lula Cardoso Ayres (1910-1987), Heitor dos Prazeres (1898-1966), Manezinho Araújo (1910-1993), Gilvan Samico (1928-2013), Francisco Brennand e Carmélio Cruz; e outros associados a uma vertente da arte pop, como Nelson Leirner e Carlos Vergara.
A coleção MASP Rhodia é um acervo fundamental para enxergar o potencial criativo da colaboração entre arte, moda, design e indústria, e que permanece único e insuperável no Brasil. Que sirva de inspiração para criatividade e novas discussões no momento atual na moda.
Lista de artistas: Aldemir Martins, Alfredo Volpi, Antonio Bandeira, Antonio Maluf, Carlos Vergara, Carmélio Cruz, Carybé, Danilo Di Prete, Fernando Lemos, Fernando Martins, Francisco Brennand, Genaro de Carvalho, Gilvan Samico, Glauco Rodrigues, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Isabel Pons, Ivan Serpa, João Suzuki, José Carlos Marques, Kenishi Kaneko, Licínio de Almeida, Lívio Abramo, Luigi Zanotto, Lula Cardoso Ayres, Manabu Mabe, Manezinho Araújo, Maria Bonomi, Moacyr Rocha, Nelson Leirner, Tikashi Fukushima, Tomoshigue Kusuno, Waldemar Cordeiro e Willys de Castro.
Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico; Patricia Carta, curadora adjunta de moda; e Tomás Toledo, curador.
Em dezembro de 2015, o MASP inaugurou um novo programa para seu espaço expositivo na estação Trianon-MASP do metrô. Arquivo no Trianon-Masp substituiu Fotografia no Trianon-Masp, o programa que exibiu em 2015 obras da Coleção Pirelli MASP de Fotografia. Assinam a curadoria Adriano Pedrosa e Luiza Proença, da direção artística do MASP.
Ao longo de 2016, serão expostas imagens históricas pertencentes ao Centro de Documentação do MASP. O Centro de Documentação foi formado na década de 1990, quando foram incorporados ao museu os arquivos da instituição. São documentos produzidos e coletados durante as atividades do museu, entre eles imagens de exposições e eventos realizados ou relacionados ao museu desde sua criação.
Na segunda edição, o programa exibe duas fotografias dos anos 1960 e 1970: uma que documenta a exposição Playgrounds, de Nelson Leirner, montada no Vão Livre do MASP, e outra do carrossel de Maria Helena Chartuni, instalado no mesmo espaço, na década de 1970.
Mestres da gravura brasileira e internacional estão em mostra inédita com mais de 120 obras do acervo do MASP.
Uma seleção com mais de 120 obras de mestres em diferentes técnicas da arte da gravura está em exibição no MASP desde 05 de março de 2011. Papéis Brasileiros: A Arte da Gravura - Coleção MASP traz obras de Volpi, Tarsila, Babinski, Samico, Manezinho Araújo, Gruber, Jardim, Segall, Grassmann, Valentim, Hudinilson, Nelson Leirner e tantos outros, a maioria deles mestres brasileiros e estrangeiros que vieram para o Brasil.
A mostra apresenta um primeiro movimento da figuração na gravura, tal como manifesta no acervo do MASP, e em seguida os movimentos da abstração e da nova figuração contemporânea. Esta exposição será seguida por outra, futuramente, dedicada aos papéis estrangeiros da Coleção MASP, também no campo da gravura, e marca uma atenção do museu para com esta arte, expressa em exposições como as séries completas de Goya (2007); Desenhos Espanhóis do Século 20 (2008); Primeiro Expressionismo Alemão (2008); O Mundo Mágico de Marc Chagall (2010) e Uma Semana de Bondade, de Max Ernst, apontada pela APCA como a Melhor Exposição Internacional de 2010.
Papéis Brasileiros: Gravura 1910-2008 - Coleção MASP
Por Teixeira Coelho, curador-coordenador
A gravura serviu, na história, a fins diversos. Foi modo prático e barato de representar uma paisagem, uma pintura famosa, uma catedral conhecida mas que poucos podiam ver quando ainda não havia a imprensa e a fotografia; ou lugar de ensaio para uma obra maior; ou expressão de uma grande arte em si mesma. Parece simples nos recursos e resultados mas pode dar forma a conceitos complexos. Albrecht Dürer, mestre gravador como poucos, tinha uma noção, válida ainda, do que era belo na gravura (e na arte): o belo é um conceito relativo e variado, e não objetivo e uniforme como queria Alberti. Essa relatividade e essa diversidade estão nesta mostra.
Elas seguem os três critérios de Dürer para definir e apreender a verdade artística: a função (mostrar como é um rosto, por exemplo), a satisfação proporcionada e o domínio do meio. Com eles, Dürer acreditava que alguém poderia criar “belas imagens”, não “espontâneas” ou “inspiradas” mas que vinham de uma “síntese seletiva interior”.
O conjunto aqui mostrado organiza-se em três movimentos. O primeiro inclui obras com um compromisso figurativo claro, embora variado, com o mundo exterior. O segundo cobre um momento em que o artista buscava noções abstratas do que seria o belo, sem ligação com o real imediato, um momento de forte autonomia da arte. E o terceiro mostra o retorno da figura porém sem vinculação com o real e, sim, muitas vezes, para fazer um comentário sobre a figura muitas vezes vista em outro meio e não na realidade (e com o recurso de outros meios que não os da gravura tradicional). As obras deste terceiro movimento navegam entre o pop e o conceitual, assim como as do segundo circulam pelo abstrato informal e geométrico e as do primeiro, pelas diversas correntes estilísticas da modernidade ampliada (simbolismo, expressionismo, surrealismo e suas nuances).
Esta exposição não põe em destaque, porém, as opções estilísticas. Seu método é iconográfico, colocando lado a lado distintos modos de representar-se um tema como recurso para uma apreensão mais imediata das diferentes ideais sobre a arte e o que podem apresentar-nos hoje.
Os movimentos
A coleção de gravuras brasileiras do MASP assume a forma de um arco extenso que vai de Carlos Oswald, precursor da gravura artística no Brasil, a artistas contemporâneos que recorrem a novas tecnologias como o xerox (Hudinilson Jr.). São todos casos que ilustram o período em que a gravura emancipa-se de outras linguagens, como a pintura e a fotografia, e dedica-se à exploração de seus próprios recursos técnicos e expressivos.
Primeiro movimento: figuração - As obras deste grupo tratam de revelar o belo oculto na natureza ou na realidade das coisas e do mundo. Sua função é representar esse mundo conforme a versão de “síntese interior” escolhida pelo artista. Essa síntese é mais simples ou mais elaborada, mais próxima do real ou mais aberta às liberdades da imaginação. Mas, as imagens resultantes representam sempre alguma coisa por alguns de seus traços visíveis, como a forma geral de uma árvore ou de um rosto, o aspecto físico de um objeto inanimado visto ou codificamente imaginado. Alguns de seus autores são de artistas que fizeram da gravura seu meio predileto de expressão, outros são de artistas que experimentaram também com outros meios, em particular a pintura. E o período coberto vai do primeiro modernismo à atualidade.
Segundo movimento: abstração - Estas obras buscam a beleza ainda mais oculta do mundo, aquela que está abaixo da superfície visível e que propõe uma harmonia secreta revelada ou inventada pelo artista. Perseguem um “aquém da forma”, ou a “forma pura” que, para Kandinsky, é capaz de responder às “necessidades interiores” do artista. São peças que exercitam de modo livre (descomprometido com o real e a natureza) os elementos gerais da arte, como a cor, a linha, o plano, a partir de uma inspiração na música e na matemática. Compõem campos de expressão cuja função é apontar mais para elas mesmas do que para algo fora delas. São sínteses seletivas interiores complexas que buscam na “simples satisfação”, no prazer do observador, sua meta central. Representam um movimento cujo valor central era a ampla autonomia da arte: sua liberação diante da necessidade de representar o mundo exterior, o “real”.
Terceiro movimento: uma outra figuração - A figura está aqui de volta, mas num outro passo do parafuso da arte. Sua referência e sua fonte não são mais tanto o mundo real, a natureza ou a “forma pura” como o universo da própria cultura (a cultura pop dos quadrinhos, do jornal, a própria arte). Antes de apontar para “a realidade”, esta arte visa a própria arte ela, como as obras do movimento anterior, mas recuperando agora o valor de representação do ícone, da parecença. Aos poucos, neste movimento, a síntese seletiva interior torna-se mais complexa ou rarefeita e o conceito predomina sobre a forma evidente. Também as técnicas são outras, acompanhando a evolução tecnológica: os antigos modos (xilogravura, linóleo, metal, litografia) são substituídos por outros ou combinados. A reprodução da imagem ganha novo meio: a impressão digital.