Arte do Brasil até 1900 é a primeira de uma série de exposições dedicadas ao acervo do MASP, foco da programação em 2015. A mostra reúne não apenas obras da coleção, mas também documentos do arquivo histórico e fotográfico do museu. Apresenta um recorte da coleção de pintura brasileira do MASP, do século 17 ao 19, do período colonial à República.
Como “arte do Brasil”, compreende-se toda produção realizada no e sobre o país, por brasileiros ou estrangeiros. Dessa forma, estão incluídos tanto os artistas viajantes europeus como os pintores acadêmicos brasileiros. Embora o conjunto não tenha a pretensão de construir uma história da arte abrangente do período (tarefa eminentemente impossível) e inclua retratos e naturezas-mortas, um forte fio condutor é a representação da paisagem – de Frans Post, com sua pintura de fundação da paisagem no Brasil no século 17; passando pelos viajantes do século 19, como Henry Chamberlain, E. F. Schute, Joseph Brüggemann, Henri Nicolas Vinet e Félix Émile Taunay; até o conjunto de obras de Benedito Calixto, o grande pintor das paisagens paulistas. Destacam-se, ainda, retratos realizados por Victor Meirelles, Almeida Júnior, Belmiro de Almeida, Henrique Bernardelli, Pedro Américo e Eliseu Visconti, figuras centrais da história da arte do período. Algumas obras do início do século 20 – de Antonio Parreiras, João Baptista da Costa e Arthur Timótheo da Costa – são apresentadas em razão do diálogo próximo que estabelecem com a tradição do século anterior. Chama a atenção a ausência, entre os artistas, de mulheres, que aparecem apenas como representações num período dominado por homens. Por outro lado, dois pintores negros encontram-se no grupo – Arthur Timótheo da Costa e Emmanuel Zamor.
Se o mais conhecido e visível acervo do museu é o de obras, o mais extenso é o documental e fotográfico, que abrange desde 1947, ano de fundação do MASP. O arquivo inclui correspondências sobre doações, aquisições, atribuições de obras e empréstimos entre o MASP e outras instituições ou indivíduos, notas fiscais e recibos, fichas de registro do acervo, convites e folhetos de exposições, recortes de jornais e revistas, fotografias de obras e de exposições, entre outros. Em museus, os documentos e as fotografias do arquivo normalmente não são expostos. Ao trazê-los a público, justapondo-os às suas respectivas obras, oferecemos uma nova camada de leitura sobre a coleção, revelando parte da história do museu.
A expografia reconstrói o projeto de Lina Bo Bardi para o acervo do MASP na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Entre 1957 e 1959, o MASP e a FAAP criaram, em parceria, o Instituto de Arte Contemporânea, para sediar os cursos e a coleção do museu. No entanto, a iniciativa não perdurou, e a coleção ficou exposta por cerca de um ano na FAAP, com visitação somente para convidados, e logo retornou para a antiga sede do museu, na rua 7 de Abril. A reconstrução de expografias que marcaram a história do museu (a da coleção do MASP na FAAP, no segundo subsolo, e a do MASP 7 de Abril, no primeiro andar), com painéis suspensos, mantém a transparência e a amplitude da planta livre. Essas características foram radicalizadas com os cavaletes de vidro na inauguração do MASP na avenida Paulista, em 1968 – aposentados em 1996, eles serão retomados no segundo semestre deste ano.
Ao reunir obras e documentos em uma mesma exposição, Arte do Brasil até 1900 apresenta não só um panorama do período, mas também revela um pouco das histórias em torno da construção do acervo. Assim, diversas histórias se entrelaçam: a do MASP, a de São Paulo, a da trajetória das obras no museu e a da própria arte brasileira.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Tomás Toledo, assistente curatorial, MASP.