Nascida em Porto Alegre, Clarissa Tossin mudou-se há cerca de 20 anos para os Estados Unidos por conta de seus estudos de mestrado. Embora já tenha uma extensa carreira internacional, esta é sua primeira exposição individual em um museu no Brasil. A mostra reúne 40 obras realizadas entre 2008 e 2025 — entre esculturas, instalações, vídeos, trançados, pinturas e fotografias —, 14 delas produzidas especialmente para o MASP.
O subtítulo da exposição, “ponto sem retorno”, faz referência a um momento na história do planeta em que não seria mais possível remediar os efeitos danosos das ações humanas sobre o ambiente. A partir desse ponto, os sinais percebidos na Terra e no superaquecimento do clima são considerados irreversíveis.
Para além de retratar o aquecimento global, Tossin incorpora em suas obras elementos materiais da catástrofe, pautando sua produção pelos resíduos de um mundo colapsado — o que chama de “fósseis do futuro”. Trata-se de esculturas construídas a partir de materiais descartados, partes de vegetais ou registros de seu próprio corpo. Em um outro sentido, a artista frequentemente se volta para o macro, o mundo, o universo, em trabalhos sobre mapas, bandeiras e imagens do espaço sideral.
Durante o período de desenvolvimento desta mostra, dois graves eventos climáticos impactaram o trabalho da artista, ecoando em algumas das obras na exposição. Em maio de 2024, enchentes de enorme dimensão assolaram o estado do Rio Grande do Sul, sua terra natal e onde vive parte de sua família. A partir disso, a artista concebeu Volume morto (2025), uma grande instalação que cobre as paredes da galeria, como se presenciássemos as marcas de uma enchente imaginária sobre o museu.
Em janeiro de 2025, um incêndio gigantesco atingiu Los Angeles, onde vive Tossin, provocando a destruição de bairros inteiros, incluindo a casa de um casal de colecionadores que possuía uma obra sua. Tais acontecimentos sublinham as conexões da produção e pesquisa da artista com a realidade incontornável dos desastres ambientais. Diante disso, Clarissa Tossin reflete também sobre o que significa produzir mais objetos em tempos de emergência, um ponto sem retorno para a Terra, os seres, os humanos e a própria arte.
Clarissa Tossin: ponto sem retorno é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP.
A exposição integra o ano dedicado às Histórias da Ecologia no museu em 2025, que inclui monográficas de Abel Rodríguez, Claude Monet, Frans Krajcberg, Hulda Guzmán, Minerva Cuevas, André Taniki Yanomami e do coletivo Movimento dos Atingidos por Barragens; mostras na Sala de Vídeo de Emilija Škarnulytė, Inuk Silis Høegh, Janaina Wagner, Maya Watanabe, Tania Ximena e do projeto Vídeo nas Aldeias; além da coletiva Histórias da Ecologia.
Desde 2019, o MASP conta com um grupo de trabalho de sustentabilidade e desenvolve ações como descarbonização, compra de energia renovável e um programa de gestão de resíduos — iniciativas que se somam à programação de Histórias da Ecologia este ano. O novo edifício Pietro Maria Bardi também incorpora soluções sustentáveis, tendo conquistado a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design).