Esta é a primeira exposição individual dedicada à obra de Erika Verzutti (São Paulo, 1971) já realizada em um museu brasileiro. Verzutti é uma artista essencial para a compreensão da prática da escultura hoje, tanto no panorama brasileiro quanto no internacional. Suas formas instigantes exploram novos caminhos para o meio, com atenção renovada à origem e à materialidade da escultura, bem como à sua inteligência formal.
Realizados em diversos materiais, como bronze, concreto, pedra e papel machê, os trabalhos de Verzutti possuem traços sensuais e táteis, brutos e refinados. A partir do início dos anos 2000, a artista começou a produzir séries de esculturas que aos poucos foram sendo agrupadas em famílias — de “cisnes”, “Tarsilas”, “jacas”, “cemitérios”, entre outras. A exposição apresenta exemplos de obras dessas famílias e busca traçar múltiplas associações entre elas. A produção mais recente da artista também está presente: são desta fase os “relevos de parede”, trabalhos que mesclam pintura e escultura e dialogam de modo inusitado com a história da arte e o mundo contemporâneo.
As referências de Verzutti para a criação de suas esculturas transitam entre livros de arte e de história social, elementos da fauna e flora, imagens em circulação nas redes sociais, notícias de jornal, evocando animais e plantas, paisagens e minerais, objetos do cotidiano e da arte—de autores como Tarsila do Amaral (1886- 1973), Constantin Brancusi (1876-1957), René Magritte (1898-1967), Piero Manzoni (1933-1966), entre muitos outros. Com seu caráter insólito, as esculturas se entregam à imprevisibilidade, por vezes com um elemento de humor, e se recusam a aceitar definições ou tradições estabelecidas—daí o subtítulo desta mostra:
a indisciplina da escultura.
A exposição está dividida em sete núcleos, pensados a partir de conceitos da filosofia, da psicanálise, da cultura popular e da própria história da arte. Os núcleos conectam as obras de muitos modos, em razão de suas formas, materiais, temas e cronologias: “Devir-animal”, “Vereda tropical”, “Metáfora do mundo”, “Totemizar o tabu”, “Modernismo selvagem”, “Sob o sol de Tarsila (e outras histórias)” e “Estranho-familiar”.
A mostra tem um caráter panorâmico, apresentando obras realizadas de 2003 a 2021, que inclui uma nova escultura feita especialmente para a ocasião. A exposição se insere no biênio da programação de 2021-22, dedicado às
Histórias brasileiras no MASP e, neste primeiro ano, voltado exclusivamente às mulheres artistas.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, André Mesquita, curador, MASP