Na sequência de
Beatriz Milhazes: Avenida Paulista, a maior exposição já realizada sobre a artista, coorganizada pelo MASP e o Itaú Cultural, esta mostra apresenta uma seleção de 17 pinturas em pequeno formato. A expografia renovada evoca dois modelos europeus clássicos de montagens de coleção e de exposição: o gabinete de curiosidades, surgido no século 17, e o estilo
Salon, no século 18.
O trabalho de Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro, 1960) constitui hoje um dos projetos mais originais de pintura no Brasil e no mundo. A artista trabalha com um repertório complexo de imagens, associadas a diversos motivos, origens e fontes. Oscilando entre a abstração e a figuração, a geometria e a forma livre, suas composições são densas, multicoloridas e literalmente cobertas de camadas — de cores, tintas e significados.
Esta concisa seleção apresenta obras feitas entre 1989 e 2020, percorrendo quase toda a sua carreira. O ano de 1989 é um ponto de inflexão na obra de Milhazes, pois foi quando ela desenvolveu a técnica que denominou de “monotransfer”, em que pinta sobre uma folha de plástico transparente e depois decalca ou transfere o elemento pintado e seco para a tela — um desses plásticos está exposto na vitrine, nesta sala. Conhecida por suas pinturas em grande formato e por projetos em escala arquitetônica, Milhazes também dedica especial atenção às telas diminutas: nelas, as formas, os elementos e as composições assumem um extraodinário detalhamento, que pede para ser visto de perto.
O título desta exposição faz referência aos gabinetes de curiosidades, salas que surgiram no século 17 e nas quais se colecionava e se exibia uma diversidade de pinturas, objetos, documentos e outras relíquias. Tais espaços, em geral de dimensões relativamente pequenas, mostravam um acúmulo de muitas peças e, mais tarde, dariam origem ao que conhecemos hoje como museu. No
Gabinete Beatriz Milhazes, as telas encontram-se instaladas numa única parede, umas próximas às outras, numa concentração deliberada, acentuada pelo vazio das outras superfícies. A montagem evoca também o estilo
Salon, característico dos salões de arte dos séculos 18 e 19 em que muitas obras eram mostradas lado a lado. A instalação compõe uma espécie de paisagem em fragmentos, formada por obras da artista sobre fundo azul, a cor que predomina na arquitetura.
Uma vitrine com 87 documentos apresenta ainda uma outra acumulação de objetos de pequenas dimensões sobre fundo azul — convites, fôlderes, catálogos, livros de artista, revistas, cartões, entre outros —, atravessando toda a carreira de Milhazes, de suas primeiras mostras nos anos 1980 à mais recente,
Avenida Paulista. Duas outras obras da exposição anterior complementam esta e permanecem no
Acervo em transformação, espaço dedicado à coleção do museu no segundo andar do edifício: a pintura
Avenida Paulista (2020), doada por Milhazes ao MASP, bem como a escultura Marola (2010-15), em empréstimo de longa duração da artista à instituição.
Gabinete Beatriz Milhazes é mais uma oportunidade para conhecer o trabalho complexo, multifacetado e tão singular de Beatriz Milhazes, uma das artistas mais significativas da cena brasileira e internacional no século 21, agora de um modo mais íntimo e focado.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP