Gertrudes Altschul (1904-1962) foi uma figura pioneira no contexto da fotografia modernista brasileira. Embora ela seja bastante admirada no meio fotográfico no país, sua obra ainda é conhecida apenas em círculos especializados, tendo sido escassamente publicada e exibida — algo que esta mostra, a primeira em um museu, e seu catálogo pretendem modificar.
De origem judaica, Altschul migrou para o Brasil em 1939 de sua cidade natal, Berlim, com o marido, Leon Altschul (1890-1975), fugindo do regime nazista. Radicou-se em São Paulo, onde dividiu seu tempo entre a fotografia e a produção de flores para chapéus em uma fábrica administrada pelo casal.
No final da década de 1940, aproximou-se do famoso Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em São Paulo, grupo que reunia fotógrafos alinhados com o movimento conhecido como Escola Paulista, pilar da fotografia moderna no Brasil. Após começar a frequentar as reuniões do FCCB e a enviar suas fotografias para a avaliação dos membros, foi aceita em 1952 como associada, tendo sido uma das poucas mulheres do grupo.
Foi a partir do FCCB que teve início a relação do MASP com o trabalho de Altschul. Em 2014, o museu recebeu um extraordinário comodato de 275 fotografias de 82 autores do grupo, que se converterá em uma doação 50 anos depois, em 2064. Com esse conjunto, o mais importante de fotografia moderna brasileira, foram incorporadas ao acervo 12 impressões
vintages da artista. Na mostra, as 12 fotografias do acervo MASP FCCB são acompanhadas por textos interpretativos.
A produção fotográfica de Altschul esteve em sintonia com a linguagem da fotografia moderna brasileira, que buscava romper com os princípios clássicos da composição por meio de construções geometrizadas, tanto abstratas quanto figurativas, e de experimentações com luz, sombras, linhas, ritmos, planos e processos de revelação
e de ampliação. Nesse contexto, os principais temas de Altschul se concentram na arquitetura moderna brasileira e nos motivos botânicos, sobretudo as folhas, bem como nos objetos do cotidiano em diferentes escalas, espécies de naturezas-mortas fotográficas.
A exposição, que toma emprestado o título de uma das mais célebres fotografias de Altschul —
Filigrana —, apresenta 62 fotografias
vintages (aquelas primeiras ampliações fotográficas feitas pela autora, frequentemente logo após a revelação do negativo). As obras são agrupadas em torno dos principais temas da artista: botânica, arquitetura e naturezas-mortas. São expostas também algumas imagens de tipos humanos, algo menos explorado por Altschul.
A mostra
Gertrudes Altschul: Filigrana integra o biênio da programação do MASP dedicado às
Histórias brasileiras, em 2021-22, coincidindo com o bicentenário da Independência em 2022. Neste primeiro ano, todas as mostras são dedicadas a mulheres, e inclui individuais de Conceição dos Bugres, Erika Verzutti, Gertrudes Altschul, Maria Martins, Ione Saldanha, e, na Sala de Vídeo, Ana Pi, o coletivo Teto Preto, Regina Vater, Zahy Guajajara e Dominque Gonzalez-Foerster.
CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Tomás Toledo, curador-chefe, MASP